sexta-feira, 30 de março de 2012

No vale de ossos sertanejo



No vale de ossos sertanejo
carcaças luziam, luzidias
a beira da estrada
empoeirada
rangendo, rangentes
dependurados fantasmas
secando ao sol 
balançantes, almas perdias

Canudos

Corredor de sombras, vultos
perseguem o soldado, forasteiro
em terras de Marias, Joões
milhares
e de um só Conselheiro

Aqui as árvores são espíritos
selvagens 
espinhos vorazes aflitos
armando tocaias
benditos santos
misturados a paisagem
odiados bandidos

Matadeira!

Vem de longe, vem certeira
Nem se pode carregar
Empurrar? Mais que desgrama!
Matando gente na lama, morrem
centenas, um mesmo azar
Cobiça!

Coronéis e partidários
Igreja e Governo
Unidos no propósito:
os santos excomungar!

Na estrada, a alma penada
dependurada no espinheiro
gargalha
ao raso que se apavora
no ruído do seu estalar

Os corvos lhes cumprimentam
Agoireiros
roendo as carnes nauseantes
fétidas carniças
dos mortos, jagunços errantes
daquele lugar

Bendigo aos visitantes do meu pomar!

Esturricados homens no rito
vultos dançantes, perdidos
Canícula
assando,
cozinha-os vivos

No alto carcará sorridente
quase nas nuvens
Ainda que nuvem não há!
Repara o aroma das gentes
soprando a morte seu cheiro,
das profundezas ele o sente

Carcará, carcará
com bico de cutelo
Não é urubu, mas um dia chega lá!


*************


Canudos, terra condenada
Bebe do sangue o chão
abrindo a boca engole
valentes e esperançosas almas
Mães, mulheres, amantes
Pais, filhos, avós 
Soldados
Algazarra de vermes sugando
cada qual o seu quinhão


Eis que se cumpre a profecia
Antonio, o Conselheiro, alarmou
O Sertão vai virar mar!


Sobre a cidade banida, represa
cobre, mas não apaga vestígios
da arrogância, preconceito
contra o valente, sobrevive
marcas permanentes  
na mente um grito:


Viva Canudos, massacrado, nunca vencido!


Joice Furtado - 30/03/2012

Burguês



Vira-lhe as costas como porco
Corrupto, corrompido
Corroído
Enganado, perdido
Promíscuo
Dano

Causa a outrem sem punição!

Rudeza, pobreza, vociferação
inconsequentes ditos
Encardido, maligna
ira dentro de si
Mesquinha
alienação

Secura, lonjura, tremura
de ossos como guizos
Chocalhos
zombeteiro imprudente
espalhador de bosta
besouro fedido

A total busca de si em nada
Roída corda, atadura
putrefata
Mostra as feridas
Demência
Incoerente conciso
Torpe e maldito
Infeliz
sem grades
Bandido 

Aponta os erros
olhar esquece
do seu próprio nariz

Eu peço bis!

Joice Furtado - 30/03/2012

quinta-feira, 29 de março de 2012

Sem termos




Às vezes sou leve brisa,
outras tempestade, tufão
deslizo por ondas, delícias
corajosas liberdades aprecio
Vigilância de egos, perdão

E volteio sobre sonhos
Fantasias
Flutuando nos ares 
Qual folha erguendo-se do chão

Amor que a ódio reage!

Quisera eu toda a beleza
Viajar em quimeras remidas
Apagar da vida as tristezas

E florescer... cada vez mais

Entre meu corpo e a natureza
Deixar fluir a raridade de ser
Sentir, amar, viver 
Tudo
o mais que preciso
crer! 

Crer em mim, sem termos ou ais


Joice Furtado - 29/03/2012

Joia feminina



Salta aos meus olhos
 sua beleza rara 
forte e veemente
emoção divina

Amor que cura, sara
sedução sublime 
corajosa rainha a minha
lapidada joia feminina

Ninfa em seu casulo
adornada, deleitosa
crisálida cristalina polida
revela a moça retinta

Formosa borboleta 
pelos ares encanta
eu apaixonado declamo
sonhos em voltas, ciranda


Joice Furtado - 29/03/2012

quarta-feira, 28 de março de 2012

A agência


Foto: Google

Tirava a roupa como uma dama. Graça e delicadeza a acompanhavam nessa jornada de mãos que deslizavam por suas curvas definidas, definitiva materialidade do imaterial desejo. Beleza transbordante em cada poro, no viço daquela pele iluminada pela manhã. Meias-calça, calcinha de renda, ia removendo cada peça a seu tempo, suave, sem pressa. Seda na cama era o seu luxo, não abria mão de um quarto com lençóis e fronhas macios onde pudesse desfrutar das horas de descanso. Quarto arrumado, limpinho. Contratara uma diarista que comparecia no local, duas vezes por semana, segundas e quintas. Flores, também, sobre o criado mudo e a penteadeira. Em uma mesinha onde punha os livros de Clarice, tão amados. Aqui haviam flores também, margaridas coloridas, adorava as vermelhas, mas não fazia distinção de cores quando o assunto eram flores. Todas elas agradavam o seu coração, alma com resquícios de ingenuidade de mulher em seus vinte e poucos anos. Chega uma certa idade em que paramos de contar! Tapetes no chão e cobertas macias de veludo. Estava frio, porém, dispensando roupas mais pesadas, ela se protegia com cobertores aveludados e edredons de linho. Quase sempre dormia nua, quando tinha tempo para retirar maquiagem e roupas. Quando não, deitava paramentada, exausta rendia-se ao sono nem sempre reparador. Pela manhã, despindo-se, princesa com garbo, maravilha da natureza resplandecente. Todos diriam ser a mulher mais decente, porém, sua decência estava em seu caráter firme, voz delicada e charmosa, porém, avassaladora comandante de si mesma. Continuava seu ritual matutino, depois de uma noite turbulenta nos bueiros enfestados de ratos sujos, bares da Cidade Alta onde fazia seu ponto. Mulher de rara beleza, crescera em uma vila humilde, pai marceneiro e mãe lavadeira. Ela e mais dois irmãos eram a agitação do bairro, alegria da família. Não tinham muitos luxos, ganhou uma única boneca aos seis anos de idade, da qual nunca se separou, mesmo nessas alturas da vida guarda-a com carinho entre os lençóis macios do seu guarda-roupas. Aos quinze anos de idade, formada moça, companhias não lhe faltavam na escola. Época em que a chamavam de Seriema devido às pernas e cochas finas. Apelido esse que lhe causava muitos complexos e, sendo um pouco impaciente, partia para cima de quem gritasse ao longe: Lá vai a Seriema. Coisas de adolescentes implicantes, todos observadores, apaixonados platônicos. Em especial, reparava em um, Ricardo, o mais implicante dentre eles. Não podia ver a moça passar pelo corredor da escola que se juntava em uma rodinha ou corriola como diziam naquela época. Xingavam a moça de Seriema metida e, Ricardo, quase sempre lhe puxava o cabelo comprido. Madeixas castanhas compridas, um pouco alouradas pelo sol. Vivian, era o nome da coitada Seriema, xingava os garotos utilizando nomes ingênuos os quais nem poderiam ser considerados baixos. Babaca, idiota e filho da mãe. Ah, Vivian, ainda não sabia bem o que era xingar. Menina da periferia, brincava de boneca até os quatorze anos, uma das únicas amigas que tinha, já que era ela e mais dois irmãos mais novos, Tiago e Filipe.
Largou a boneca aos quinze, quando os rapazes, mesmo implicantes, começaram a lhe encarar na escola e pelas esquinas das ruas onde passava. Momento esse em que também ficara moça, com pequenos, mas firmes seios, magra e alta, parecida com aquelas modelos internacionais.
Crescia em beleza, esperteza e atitude, a doce mulher da periferia de Belo Horizonte. Quando completou dezessete anos resolveu que seria modelo. Arrumou um emprego em uma loja de sapatos, muito chique por sinal, onde sua mãe tinha amizade com a dona para a qual lavava roupas. Agora, com seu próprio dinheiro, independência financeira, não total, pois ainda vivia com os pais. O que não pretendia fazer por muito tempo, uma vez que, dizia ela: Eu vou crescer na vida! Era uma boa filha, ajudava em casa, as despesas eram grandes, porém sempre dava um dinheiro do seu pagamento para a mãe, Carminda, a forte senhora lavadeira.
Aos dezoito, estava sentada a mesa de uma padaria, junto do primeiro namorado, namoro sério, o primeiro que firmara, Cássio era seu nome. Um rapaz elegante, estudante de direito e promissor filho de advogado - quando fora abordada por um sujeito barbudo, meio ri-pongo, vestido com calças largas e coloridas feito anos 70 e blusas com temas de igual teor, o qual se dizia olheiro de uma agência de modelos, Sérgio era o seu nome.
Vivian, empolgada com tudo aquilo, achando que seria a sua hora de dar um rumo na vida, acompanhada por Cássio, compareceu à Agência de modelos que lhe indicara o sujeito.
Chegando lá, foi recebida por vários desses indivíduos metidos a estilistas, todos com roupas parecendo de grife, porém que ninguém usaria se estivessem com a cara limpa, talvez alcoolizados poderiam usá-las sem se constranger com os olhares repreensores. Convenciam-na de que seria modelo, uns diziam: — Sua beleza é estonteante menina! Nunca vi ninguém assim! Sério? Vivian, perguntou. — Mas é claro que sim, minha querida, Sérgio replicava com veemência em voz afetada.
A moça toda entusiasmada já imaginava a hora de estar nas passarelas de Roma, Nova York e Paris, deslumbrante naqueles vestidos e roupas complexas. Sérgio disse que ela voltasse dali a sete dias, com o dinheiro para o livro de fotografias ou book, simplesmente.
Durante a semana, Vivian convenceu a família a lhe arranjar uma parte do dinheiro e, pedindo um vale à Luíza, dona da loja de sapatos onde trabalhava, disse que era para pagar as contas de casa que estavam atrasadas, a ponto de serem cortadas a Água e a Luz.
Chegado o dia marcado, Sérgio disse que a moça fosse desacompanhada, a fim de que não ficasse constrangida devido a presença dos parentes ou namorado. Levaram-na para a sala toda produzida. Vivian fora maquiada com capricho, por maquiadores profissionais, pelo menos pareciam ser.
Fotos ousadas pediram. A moça não entendeu muito bem o porquê de tantas caras e bocas, ainda tímida sob os olhares curiosos dos funcionários da Agência. Estranhou quando lhe pediram que tirasse a roupa e ficasse somente de calcinha, tapando os seios com as mãos em uma pose meio "cachorra" a qual ela detestou fazer, resmungando muito, enfim concordou.
A partir desse dia, toda semana haviam eventos, o cachê era pequeno, R$ 300,00 para cada lugar que comparecia. Festas em boates para empresários, aniversários pessoas ilustres - atores e músicos, donos de lojas, festivais de gastronomia e tudo mais que exigisse a presença de pessoas bonitas que, diziam, ser um chamariz de dinheiro. As coisas foram ficando sérias, mais e mais eventos, até o dia em que Sérgio, com aquele jeitinho peculiar, cercou a moça na porta da Agência, puxando-a para um canto e lhe fez a seguinte proposta: Que tal a princesa ganhar R$ 1.000,00 por evento? — Como? Quando será isso? Perguntou Vívian. Sorrateiro, Sérgio com aquele olhar de raposa ladra de ovos, apenas disse: Você quer ou não quer? — Eu quero! Porém, que tipo de trabalho é esse? Um pouco ressabiado, Sergio baixou mais a voz e disse quase sussurrando: —  Você quer acompanhar um senhor numa festa na Cidade Alta? O que, acompanhar como assim, pergunta ingênua para uma moça de 18 anos, enfim, Vívian ainda não estava acostumada com as mazelas desse mundo, ou melhor, submundo. Sérgio prometendo fama, contratos com revistas e tudo mais a moça, que, encantada com tais ofertas disse que iria pensar. No mesmo dia, ligou para a amiga Carla e combinou com ela de irem no bar do Zeca tomar uma cerveja e conversar.
Carla, chegou toda apressada, pois como ela mesma dizia: — Eu nunca consigo sair de casa a tempo de chegar na hora nos compromissos. Minha mãe sempre me fala que isso é uma falta de compromisso e, consequente, falha em meu caráter, pois eu sou preguiçosa.
Vivian estava esperando por Carla, já tomando uma cerveja, para conseguir desenrolar a conversa com a amiga. Sem rodeios, disse: Amiga, eu estou numa sinuca de bico, não sei o que devo fazer, preciso do dinheiro para  minha carreira deslanchar. Iludida, Vívian, pobre coitada! Não imaginava em qual situação iria entrar. Só o que pensava naquele momento era no dinheiro, na fama.
Carla, outra desorientada das idéias, aconselhou a amiga que fizesse de tudo pela carreira. — Não perca seu tempo, dizia ela, chances assim não ocorrem todos os dias!
Vívian, sob o aval da amiga, a doida varrida da Carla, aquela sujeitinha safada que morava na esquina do bar do Zeca, não pensou muito e resolveu aceitar a oferta de Sérgio. Pensou consigo: — O que tem demais em acompanhar, depois, eu não vou fazer nada demais. Imbecil mesmo essa Vívian.
Estava lá, a moça arredia ainda a pouco, mostrando seu belo corpo, posando como troféu ao lado de homens, mulheres e gente de todo tipo, credo e opção.
Durante a festa, o jovem empresário, Maicon, vulgo Maiky, dono da Boate e organizador da festa de aniversário do amigo Robson, Robinho; exibia a moça como sua nova mercadoria. —  Venham, conheçam minha amiga Vívian. A moça sorridente, envolvia os olhares, lobos vorazes que lhe despiam com olhos de fogo sem nenhum pudor. Gracejos, cantadas, mãos bobas pela noite a fora. Vívian via o mundo no qual pretendia estabelecer-se ainda deslumbrada, achando que estava para tirar o pé da lama.
Ao final da festa, os amigos de Maiky já apostavam com ele quanto tempo o cara iria aguentar com aquela potrinha. Isso aí, potrinha! Nomenclatura totalmente vulgar que alguns homens imundos usam para descrever as moças de dezoito anos. Maiky e Robinho pretendiam fazer uma festinha particular depois daquela na qual estaria a graciosa Vívian, a nova refeição.
Despedidas a parte, Maiky ofereceu carona a Vívian, pois a essas alturas não haviam mais ônibus para a periferia de BH. Vívian relutou em aceitar, mas, com os pés já inchados de tanto ficar de pé, resolveu que iria com Maiky até próximo de sua casa.
No meio do caminho, Maiky parou no acostamento da pista, no sentido contrário ao informado pela moça, dizendo:  — E aí moça, o que será? Vívian, estupefata, não sabia o que dizer. Sentiu medo e pensou sobre o que estava fazendo ali. Vívian, mesmo com dezoito anos ainda era ingênua, mesmo já sendo mulher formada, uma vez que perdera a virgindade aos 16 anos com Ricardo, aquela mesmo, o da escola que lhe xingava de Seriema. Isso, quando "ficava" com o mesmo em uma festinha organizada para "pegar as meninas", articulada pela corriola do rapaz, esse que lhe levara para o quartinho dos fundos da casa dos pais dele dizendo que era para eles ficarem mais a vontade. Vivian, bêbada e songa que só ela mesma, naquela época, foi com Ricardo o qual apostara uma caixa de cerveja com os colegas que "comeria" a Seriema naquela noite.
Depois do ocorrido, Vívian passou um bom tempo sendo motivo de chacotas na escola. A Seriema que o Ricardo comeu, regada com bastante cerveja.
Momentos difíceis para a jovem que não aprendera com o acontecido, caindo de novo no mesmo truque do inferno. Ali, no carro de Maiky, meio sem rumo, tremia e se sentia acoada como animal estúpido na beira da estrada. Maiky não era do tipo bruto, cheio de galanteios ofereceu dinheiro para a moça, bastante por sinal. Dizia: Você vale a pena, esse corpinho lindo e firme que você tem já me convenceu a dar o que quiser. Nem tão ingênua assim, quando ouvir a frase: "Eu lhe dou quanto quiser!", seu coração disparou e veio aquela vozinha: É só hoje, Vivian, porque não. Riu por dentro porque a vozinha era igualzinha da Carla, sua amiga. Pedindo o dinheiro adiantado, digamos que não era tão estúpida assim, R$ 1.500,00 pela noite. Parte já iria receber por ter comparecido a festa, já estava acertado com o Sérgio, que levava quinhentinhos nessa parada aí. Dessa forma, naquele momento, Vívian fazia a sua opção, prostituta de luxo iria ser. Mil e quinhentos reais aquela noite, só aquela - pensou.
Muitas noites mais chegaram, nada de fama, só algumas revistas pornôs baratas e filmes do mesmo cunho. Vívian alcançara os seus 24 anos, idade em que as modelos estão no auge, fazendo servicinhos para empresários, homens, mulheres, casais e tudo o que aparecia onde rolava um bom dinheiro.
Não tinha fama, a não ser a de piranha de luxo, alardeada pelas vizinhas fofoqueiras do prédio onde agora morava, depois de ter saído da casa dos pais, com medo de descobrirem o que ela fazia naqueles supostos eventos. Continuava linda, uma mulher encantadora, sinceramente, de cair o queixo. Durante todo o dia dormia em seu apartamento comprado a custa de muitas "noites de prazer" com empresários, deputados e o que mais havia. Treinada na arte do kama e cumasutra. Língua e mãos, buça e rabo era os seus instrumentos de precisão. Manobrava como ninguém a xana quando estava cansada e, ainda precisava atender os clientes que lhe ligavam para "agendar o serviço". Xique, a gata, agendava os programas e, muitas vezes, escolhia os clientes, não muito pela aparência, eram escolhidos mais pela grana e privilégios que iriam oferecer. Vida de rua é dura, há sempre os brutos, aqueles que nem querem nada a não ser me ver tirando a roupa, os que só desejam conversar. Enfim, é o meu trabalho dizia ela ao celular para a velha amiga, despirocada, Carla.
Na esquina, já conquistada por ela, disputada no tapa com a Patrícia Cinderela, travesti barraqueira que ameaçou Vívian de morte certa vez. Nada mais temia, aquela moça da periferia, encontrara a sua fama. A tão sonhada carreira desandara e o seu futuro só a ela pertencia. Por mais de três anos não via os pais e irmãos. Tinha vergonha deles saberem a sua profissão. Antiga e, porque não dizer, digna profissão, uma vez que atuava por sua conta em risco num "negócio próprio", autônoma dama da noite de BH. Sonhar, para que sonhar? Botava o dinheiro no bolso e ia para o shopping gastar com sapatos, roupas de marca, perfumes, bijuterias. Tudo que era caro ela tinha. Homens não lhe faltavam, além dos clientes eram mais dois namorados para escolher, Cezar ou Renan, os quais nem imaginavam que sua garota era "do ramo", mas aproveitavam daquele dinheirinho fácil o qual sempre pediam emprestado a ela. Vívian tinha um lema, algo assim como uma filosofia zen do desapego e que desapego:
Mulher vagabunda nunca mente para um homem até porque ela sabe bem o que quer e nunca espera nada dele a não ser o que lhe convém.

Joice Furtado - 28/03/2012

Deixando claro que essa é uma história fictícia, e que embora hajam casos de aliciamento a prostituição, existem Agências e profissionais modelos idôneos. É sempre bom conferir os trabalhos, a credibilidade de uma Agência. Assistimos, quase todos os dias, na TV que existem profissionais e, também, pessoas de má índole nesse meio.

Na taverna




É noite na taverna
Nós bêbados, vadios e sujos
baixos, ladrões e imundos
chamados a ralé literária
Em nosso mundo cinzento
de pão boleronto, torpezas
conscientes
Nós
em nossas mentes
Muitas, dignas palavras
Indignas 
e desconsideradas
gentes

Noite na taverna


Sonhadores poetas
bebamos
do simples elixir
qual nos faz cair
Em sumo
Realísticas
ou nem tanto
 palavras nunca vãs

Bem-vindos
Façamos a festa!
A lua e as estrelas
dançam lá fora
Aqui na penumbra
luzes de velas, espumas
flutuantes no mar
de pensamentos negros
outros insanos
põem-se a flainar
vultos
aflitivos 
cabeças de muitos
falatório maldito

boêmias, boêmios

madrugada 
intensa
imersos corações
de mesmo pulsar

via láctea!

 Bilac e Nostradamus
poetas a profetas
papéis sobre a mesa
Barco perdido
o poeta menino
em seu navio negreiro
recitando o azar

Mortos em trevas
negros falantes
África doente
choram
soluçam
filhos valentes!

Quanto a nós
não-burgueses
bebedores e cretinos
rotulados
famintos
e imundos
pelos hipócritas,
verdadeiros
impuros

Quebrando correntes
anarquistas, socialistas
esquerda, direita
classe política
apolitizados também

heróis, anti-heróis
em resistência
Mordaças,
jamais,
elas não nos contêm!


Joice Furtado - 28/03/2012

Tocando o céu



Flutua na dança bailarina
delicada moça, pernas
e braços em compasso
de alma forte e imponente
graciosa menina-mulher
na ponta dos pés caminha
pisa o céu em pleno chão
toca as cordas suaves
ritmada música, dádiva
celeste, em doce coração.

Em homenagem às minhas primas bailarinas tão lindas. =)

Joice Furtado - 28/03/2012

O bufo dançante

Imagem: Google

El bufo

O bufo dançante também é bufo
coaxador sapo esquisito
criatura da lama
nada de idéias
encanto
engole moscas
refeição ignóbil
deita na cama
fama
segura a rima
sua sorte cretina
morre
sem pranto.

Joice Furtado - 27/03/2012

terça-feira, 27 de março de 2012

A grande Avenida




O meu papel marcado
receita do cotidiano
medidas certas
paciência
banzos
fermentada ausência
essa de ser ausente
e descomunal engano
o ser todo presente
atrevido
meu olho persegue
digo um só, pois os
ineficazes são
dependentes
da mesma lente esquerda
Avenida grande, gritam
favelas beirando
suas costas, Brasil
meus olhos são lâmpadas
faróis de milha, águia
observando
perscrutando o universo
por vezes radiante

Esse mundo indecente!

Limiares sujos
mentes doentes
Nada que veja é tão só
e diferente do que já vi
antes, sempre
ferida de bichos cravada
nojo
Algo tão bruto
pode florescer um dia?
Esperança
bela dama irreal
Dá-me sorrisos singelos
de crianças que me olham
de dentro para fora
Inocente guardo
a inocência pulsante
em veias quentes
insensatas

Conheço tão bem
alguns desses caminhos
valentia e desvario
Quais jamais chegam ao mar
palavras são ilustrativos
ilustradas para continuar
perseguindo sonhos
em medidas nobres,
contudo inexatas


Anarquisticamente, eu ainda ando de acordo com o sistema. Seu conjunto de regras e preceitos, uns ultrapassados, dentre outros tantos que são vias de conduta para os submissos cidadãos. Uma mente assim, como miscelânea, mente de mulher não tem muito valor para alguns. Justamente as mulheres que são as progenitoras, as mães, conjunto tão harmonioso de células justapostas em um ser de alma e coração quase sempre sublimes, digo quase, pois há aqueles indivíduos nefastos, com tamanho desprezo pela vida que lançam seus filhos fora embalados em bolsas de supermercado, sacos de lixo ou, simplesmente, jogados ao relento para morrer, esses que jamais deveriam ter a dádiva de colocar uma criança no mundo. Enfim, a vida quase sempre é injusta, nós é que devemos fazer dela algo melhor.

Joice Furtado - 27/03/2012

Abstrato



Eu acho tão bonito isso de ser abstrato, baby
A beleza é mesmo tão fugaz

Apenas mais uma de amor - Lulu Santos

Morena anil



Vivia nos olhos dela
doce morena, cor anil
flor e fruto silvestre
luzente cabocla do sertão
agreste, resistente terra gentil

Via crescente
passear às minhas vistas
entre correntezas, cascatas
margens e costas largas
Meu coração a seguia

Velho rio criador
leito pedregoso, arredio
onde plantei o meu pé
firmei os passos no chão
meu berço, balanço
em seu regaço, amor

Rochas, belas águas
onde vão se banhar
as caboclas fagueiras
charmosas morenas anil
terra de muitas faces, bela,
majestosa pátria Brasil.


Joice Furtado - 27/03/2012

O bufo real


Hoje vejo que o preconceito possui muitas faces. Todas elas tão sujas e podres igualmente, exalando sua fragrância fétida composta por nada mais que: estupidez, ignorância, irracionalidade e autoritarismo.

Nada ecoa mais alto que o ódio provindo de um coração preconceituoso. Impossível esconder a falta de caráter e total baixeza mascarada em polidez de um ser assim. Está certo que no teatro são usadas muitas máscaras. Sentimentos e emoções são caracterizados de forma perfeita por seus imitadores, treinados homens e mulheres na arte de representar. Porém, no teatro da vida, o maior deles, onde cada dia matamos um leão, batalhamos para não sermos manipulados como marionetes articuladas tendo cordinhas movimentadas pelo grande Gepetto, o ventríloquo mor, ego inflamado pelas chamas do inferno e do seu comandante, o próprio, criador de casos e assassino dos sonhos humanos. Esse que veio para matar, roubar e destruir, passando como rolo-compressor sobre os de má índole, suas montarias preferidas. Cavalos xucros, com corações soberbos e muita, muita sujeira na mente. Sim, os que escondem sua sujeira debaixo do tapete são os piores porcos, os mais cretinos, os quais estão tão enfezados que seus ventres começam a inchar. Incham e incham como sapos boi, aqueles bichos esquisitos e desengonçados que adoram uma lama e comem moscas achando ser o mais requintado manjar. Seus ventres com toda essa merda presa, ou melhor, para eles é bolo fecal, costumam não suportar, então, toda a sujeira sai pela boca, mascarada em palavras finas. Um chocalhar de guizos imitando bodes em correria. É, esses são os famosos: Eu sou melhor que você!  A minha barriga é cheia de merda igual a sua, só que a minha barriga é ilustre enquanto a sua é só mais uma barriga. Bufos, assim são chamados esses animais da lama. Nome que também carateriza um personagem bem comum nas histórias antigas, o qual fez parte delas, o bufão ou bobo da corte. Funcionário da monarquia, seu papel era entreter os reis e seus súditos, companhias fiéis e não tão fiéis assim. Era considerado desagradável, pois apontava de forma grotesca (rude) os vícios e características da sociedade. Os bufões, com suas línguas ferinas, mordazes locutores, só calavam o seu discurso quando lhe cortavam a cabeça. Com ironia, mostravam as duas faces da realidade, revelando as discordâncias íntimas e expondo as ambições do rei, baseados em suas próprias iras, seus próprios preconceitos arraigados e ódio a tudo que fosse contra a sua altivez.
Os sapos boi de hoje são patéticos como sempre foram esses anfíbios. Patéticos, porém, necessários à sociedade, uma vez que sem eles não teríamos a quem nos comparar, não teríamos como aprender a não seguir tais caminhos.

Pensarei duas vezes antes de julgar alguém pelos meus conceitos.

Joice Furtado - 27/03/2012

segunda-feira, 26 de março de 2012

Luminosa



Costumava beijar-lhe a nuca
intensa e chamejante
ondulações ternas de querer 
atraída mariposa à lâmpada
aura de amor tão quente
conforta-me, fascina
luminosa e amante mulher

Deitava-me em seu colo
esperando cada carinho,
cada beijo e afago sozinho,
poeticamente satisfeito
mergulhado em beijos de lua
sol da manhã reluzente
eleito em você, durmo
acariciado pelas mãos suaves
deslizantes em meu peito quente.

Eu, pobre de níquéis e vencido
pelo cansaço dos dias
vi em seus olhos, amor esperado
a força de corajosa e querida
quando de mim nada requer
mas, agradecido a entrego
todo o amor e cuidado, paixão,
o melhor que de mim quiser.

Joice Furtado - 26/03/2012

domingo, 25 de março de 2012

Odeio gatos



Arrastava-se pela cidade como um mendigo. Um idiota de calças arriadas parecido com aqueles ídolos americanos. Não tinha dinheiro, mas sacava a sua arma de brinquedo, coisa boa, nem parecia imitação de pistola comprada no camelo, importada da puta que o pariu onde morreram uns cem trabalhadores com câncer devido a tinta tóxica utilizada para tingi-la. Morava num muquifo do caralho, peste dos infernos, na beira da estrada na periferia de Brasília. Sua mãe, Odília, sempre dizia para esse otário que se não estudasse iria morrer como o pai, com uma bala na cabeça, amarrado e de joelhos, imitando o porco que sempre foi. Curtia as paradas sinistras, torturava os gatos e cães dos vizinhos só para vê-los se contorcendo de dor até morrer. Fumava como louco, cigarro comprado, roubado, cigarro de palha, maconha, pedra, cheirava um rapé, o que passava na frente estava colocando pra dentro. Frase ordinária essa, mas era bem assim. Gostava da bebida, a forte, nada daquelas águas de menina, líquidos semi alcoólicos parecendo enxague de bocetinhas sem lavar. Passava madrugadas nos bares, sem um puto no bolso, porém com muitos irmãos que lhe davam da maldita sem pagar. Medito a compositor, escrevia no verso das notas de um real, o seu rap salafrário, onde sexo e drogas eram a rima, coisa bonita e de bom gosto dizia ele para as primas: Você tem que escutar! Vangloriava-se de ser músico, o melhor do bairro, estou fazendo aula de canto e violão por correspondência. Inferno! Como eu odeio esses metidos a besta dizendo que eu não sei tocar, riem da minha cara e falam que eu sou um tapado e burro sem miolos para aprender a cantar. Um dia, quando dava um rolé pela rua da Dona Zica, uma dona gorda, negona com uma penca de filhos, cada um de um pai diferente; viu a filha mais velha, Suzana, a própria, a do rabo quente, aquela mesma. A moça antes recatada, agora de shortinho e blusinha de alcinha, calcinha de tirinhas a mostra, piercing no umbigo, barriga peladinha, e como era gostosa a Suzaninha com aquela calcinha enfiada no rabo. Tratou de chegar na mina, com uma de suas rimas e mandou um: Vamo lá! Arrastou a bandida, safada e galinha pra trás do muro. Disse do tamanho da sua pica, pau duro com treze centímetros e pouco mais de três de espessura. Ao que a Suzana respondeu com um sorrisinho escroto de vaca nada donzela, mordendo os lábios com cara de safada: Eu não me sujo com pouca merda, gostoso. Se é que me entende. Se for esperto com essa língua, meu querido, eu garanto que todos os centímetros não vão importar.
Lá estava o Charles, ou NegoX, como gostava de ser chamado, enfiado na boceta da Suzaninha, agora com a xana toda treinada, gostava de uma trepada em qualquer lugar. Cara malandro e atrevido, adentrou para casa da mulher, de malas e cuia, sem vergonha nenhuma ele andava quase nu pela sala. Passeava pelado na laje, perto das filhas mais novas da dona Zica que encaravam aquela piquinha do NegoX e se riam dizendo: É só isso meninas!
Uma noite dessas em que o inferno resolve conspirar, NegoX, com uma ideia fixa na mente, resolveu sair pra dar um rolé, deixou a Suzaninha em casa, afinal de contas, pra que levar mulher? Eu vou caçar uma buça nova, já to enjoado de comer de colher, quero comer um rabão sem ter muito que esperar, só que ela se vire e me diga que quer.
Percorreu as ruelas do bairro sujo, esgotos correndo a céu aberto, todo tipo de bosta e inseto possível ali. Ratos e gatos eram parecidos, até amigos se bobeasse, lembrando que tinha visto um rato comendo a carcaça de um gato que tinha sido atropelado pelo caminhão de lixo e as tripas estavam esmagadas no meio da rua, cheias de moscas e baratas imundas rodeando o asqueroso animal estrebuchado. – Odeio gatos, tenho nojo deles! Chegando a altura da rua de cima, É! na periferia tem muito disso, rua de cima, rua de baixo, rua da casa do caralho, tem de tudo. Enfim, chegando lá, viu os malandros na esquina, apertando a menina pra roubar e que mais eles quisessem com ela. Covarde, mesmo metido a esperto, deu uma carreira pra trás pensando: – Se eu to lá até pro meu buraco sobra! Malandro que é malandro sabe que no buraco dos outros não deve entrar, só com autorização. NegoX adorava um buraquinho, de trás então, era especialista. Pegava solteira, casada, viúva, donzela, travesti, o que tivesse na pista. Quase chegando em casa, faltando uns passos do portão, ouviu alguém gritar: – Malandro, larga de ser safado! Viu acertar minhas contas contigo, achou que eu ia esperar quanto tempo pra receber minha grana? Era o Nequim galinha ou Neco, famoso por roubar as galinhas dos vizinhos e vender de porta em porta. Pois é, Neco também emprestava dinheiro a juros, agiota procurado, comprou um carro do ano só no migué. Gritando e xingando, Neco empurrava NegoX, dizendo: Filho da puta, eu quero o meu dinheiro, agora não tem mais chance, tu vai morrer! NegoX, que corria como ninguém, acostumado por fugir de bandido e polícia, correu para o outro lado da esquina, seguido por Neco que encurralou o imbecil num beco, perto de um monte de lixo fedendo com tudo quanto é bicho. Disparou seu Magnum 500. Neco era bravo, até pistola cara tinha. NegoX tomou um tiro na barriga que lhe varou de um lado ao outro, tiro que pegou perto do intestino grosso, esse mesmo, onde passa a merda para depois o cu finalmente cagar. Estrebuchando como o gato atropelado pelo caminhão, bichano morto que viu a pouco, NegoX celebrou a sua glória, a profecia da mãe Odília, morreu como porco em meio a lama e esgoto, aos restos e ratos, como babaca que sempre fora.
Suzana, pela manhã, após levantar e perceber que NegoX não estava em canto nenhum da casa, desconfiada com a demora de Charles e já puta da vida porque o malandro não atendia o celular, resolveu ir até o vizinho André, Dézinho, dono da boca de fumo do bairro, onde NegoX costumava ir para comprar e curtir os bagulhos. Ao se aproximar da casa de André, que ficava perto da esquina, três barracos antes do beco, Suzana viu a movimentação de carros de polícia e dos moradores que formavam uma merda de uma multidão na entrada do beco. – Que porra é essa que tá acontecendo ali? Perguntou Suzana a si mesma. Ao se aproximar, Dézinho chegou de mansinho em Suzana e disse: Oh Suzana, você sabe do NegoX? Ao que ela respondeu:  – Não, to procurando aquele peste desde cedo. Pois é mulé, disse Dézinho, tá lá no beco. Queimaram ele! Suzana ficou mais branca que defunto de três dias e, ameaçando um desmaio, logo voltou a si e saiu correndo pra casa para avisar a Dona Zica que o filho da puta do marido tava morto. Ao chegar em casa, ainda transtornada e tremendo que nem vara verde, Suzana disse para a mãe: – A Sra não sabe o que aconteceu. O que fia? Perguntou Dona Zica. O Charles tá morto lá no beco, mataram ele mãe, mataram. Dona Zica sem pestanejar apenas disse: Já foi tarde aquele bicho burro. Agente cansou de dizer para ele sair dessa vida e ele continuava mexendo com as paradas erradas. Não se preocupe minha filha, você é nova, tá com 27 anos só, daqui a pouco encontra outro homem que lhe ajude a cuidar dos bacuris. Suzana já tinha um filho, que não era de Charles e estava grávida do falecido. Na nossa vida filha, agente tem que aprender a se virar, o seu marido tá morto, mas você tá viva, vai continuar e vai dar tudo certo. Tem que arrumar um emprego para ajudar a mãe aqui criar as crianças. Quando for arrumar outro homem, não arrume essas merdas que tem pegado, arrume um homem bom e trabalhador. Disse a Dona Zica para a filha que, chorando muito, respondeu: – Tá certa mãe! 
Eu, camarada Rodrigo, Digo para os mais chegados, vizinho e inimigo daquele zé bunda, vi quando a Suzana veio gritando pela rua que nem doida, aquela piranha maluca: – Mataram o otário, mataram o otário! 

O louco caminha pela rua,
encolhido corpo, zumbi
de olhos esbugalhados
boca desenfreada, cavalo
montado por demônios
balbucia frases ao diabo

Eterno maluco, o sereno
é a sua casa, onde dorme,
remói seus podres sonhos
da vida promíscua, onda
fétida de bosta no ar
vagalhão de torpezas
bem alto começou a gritar:

Puta! Puta merda!
Puta vida! Puta de tudo
me soube roubar

Roliça, preguiçosa puta
Puta, cachorra
de rabo empinado pra dar
Piranha! É! Você é puta!
Suja e nojenta puta.
Nem adianta dizer:
eu não vou calar.

Desentendidos todos
putos imundos
transeuntes  fecham
os ouvidos surdos,
fingindo, malditos!
Amordaçadas bocas
jamais irão contestar.

Joice Furtado - 25/03/2012

sábado, 24 de março de 2012

Rabo quente




Meia-noite de Domingo, Suzana voltava para a casa depois de visitar os parentes no mesmo bairro. Lá, regados a churrasco e cerveja, tios e tias, sobrinhos num falatório maldito, cheio de palavrões, provocações sexuais e muitos “Que se foda!”onde os que escutavam de longe imaginavam alguma orgia, putaria organizada numa noite quente, em pleno final de semana. Dia santo para alguns, porém, para os seus parentes, Domingo é dia de celebrar, tomar aquela cervejinha gelada junto de um churrasquinho de carne de segunda, comprada fiado no mercado da esquina, pois como diz a tia Erminda: Comer carne é bom, ruim é pagar!
Aquela moça magra, porém com certa substância em seus quadris, cabelos compridos e escuros como aquela noite, pele branca igual leite das tetas das mais gordas vacas.
Virando a quadra onde morava, lá estavam, as três vizinhas, as novinhas, como os garotos chamavam: Re, Paty e Vi. Intitulavam-se “Mercenárias” e gostavam de seus apelidinhos fofos, tanto, que cada uma possuía no pescoço as iniciais dos nomes para não serem confundidas com outras safadas dali. Os homens se engraçavam, ofereciam carona, propostas, bebida a vontade, babavam como loucos quando alguma delas, de forma promíscua achando singela, dizia que estava a fim de sair.
Suzana apressou o passo, pois temia a companhia delas. Pensava: O que os vizinhos irão dizer? E a Dona Zuleica? Aquela fofoqueira dos infernos está sempre à espreita, olhando pelas frestas da janela quem passa na rua. Imagino que amanhã dirá que estou fazendo programa junto das piriguetes do bairro e que dessa vez eu fico rica.
Chegando em casa, Suzana, ainda esbaforida, tirou aquela roupa cheirando a carne queimada, cigarro e cerveja. Fedia como uma funcionária de churrascaria, ela mesma disse para si: Vou tomar banho, pois catingando desse jeito nem o Seu Zé me queria. E riu sozinha. Imagina aquele velho nojento e sujo. Vive com a mesma roupa, mora sozinho, não deve nem tomar banho, fica sentado o dia inteiro no bar e de noite, quando o mesmo fecha, senta na sarjeta para conversar.
Suzana arrancou a última peça, uma calçola gasta com os elásticos já aparecendo, a qual ela adorava, dizia se sentir mais confortável com a tal, comentava sempre da sua preferência com a tia Erminda a incentivadora e vendedora dos tais artefatos.
Sentou-se no sanitário para uma mijadinha antes de entrar no banho.  Minha mãe sempre disse que é porquice fazer xixi no box e que iria manchar os pisos com a urina.
Pegou o sabonete, aquele sabonete cretino com cheiro de erva-doce e começou a ensaboar, começando pelas partes íntimas, ou melhor, em suas palavras: – Vou começar pela boceta, adoro esse lugar. Esfregava com carinho a tal, o clitóris, os grandes lábios, repetia para si mesma: – Mulher tem que ser limpinha! Naquele ínterim, Suzana já excitada, contorcia-se embaixo do chuveiro, mexendo na boceta molhada, imaginando o Seu Zé, aquele velho, não era velho só aparentava ser por causa da bebida, chupando e metendo no seu cuzinho. Suzana, a recatada, dizia-se santa mulher, que nem era mulher ainda, pois nunca tinha dado a bocetinha para ninguém. Brincava com os primos, um deles lhe pediu o rabinho ao que ela cedeu sem muito pensar. Gritou como louca quando ele atochava a piroca em sua bunda magra, mas depois de algum tempo, virou sua diversão preferida, mesmo sem admitir, escondia da família a condição de rabo quente (tocha rabal), mas todos os primos já sabiam que a Suzaninha gostava de uma pica e como gostava. Certa noite, enquanto descansava no quarto da tia Erminda, depois de ter bebido umas a mais, Suzana sentiu uma mão deslizando em suas coxas, puxando sua calçola e encostando o instrumento quente em sua bunda, era o Henrique, primo mais novo, quatorze anos apenas e já com o pau duro, esfregando frenético na bunda da prima mais velha. Suzana com seus 25 anos, virou-se um pouco, achava estar sonhando, e se fosse sonho, pensou: vou aproveitar! Henrique um pouco atrapalhado, ainda com aquele pau duro como aço, não conseguiu enfiar na bunda da prima toda arreganhada, fingindo-se bêbada. Roçou o pinto mais um pouco e, com medo da mãe, a tia Erminda, colocou-o de volta na cueca e voltou para o terraço onde rolava a cervejinha e o churrasco.


Angústia
necessidade vencida
virgem cretina e fingida
com seu rabo de fogo,
tocha onde atochados serão
como cães, matilha homérica
insistente procura
singela pica para chupar
com astúcia nas mãos
de tudo sôfregas bocas
em alucinados gozos
escorrem daquela atrevida.


Muitas noites, Suzana lembrava-se desse episódio e se masturbava lembrando de Henrique, não podia ver o garoto que corria para abraçá-lo e tecer elogios ao muleque do pinto de aço, como o intitulou em seus pensamentos mais sujos.
Naquela mesma noite, Suzaninha após ter tomado o banho, ligou para o primo Henrique dizendo que tinha esquecido a sua bolsinha de moedas, pedindo que ele fosse entregar para ela que o estava esperando. Henrique vem aqui e traz pra mim o negócio. Não vai demorar, a tia Erminda deixa, anda logo!
O rapaz, pegou a bolsinha ordinária e, mesmo de má vontade, foi entregar para a prima que, a essa altura, toda molhadinha, esperava a sua presa no portão. Minha mãe ainda está na sua casa, não é? Perguntou Suzana. Sim! Ela disse que vai dormir lá, para você trancar bem as portas e janelas, Henrique passou o recado.
Então ta prima! Eu vou indo, tenho que encontrar com a Vi, ela está me esperando na casa dela pragente sair.
Suzana, em um salto, como gata no cio, segurou o primo e disse: Primo, sabe aquele dia. Qual? Perguntou Henrique. Aquele em que você e eu estávamos no quarto da tia Erminda. Nossa! Você lembra? Desculpa prima. eu tava sem noção, tinha bebido muito. Não é para se desculpar. Vamos terminar hoje isso? Suzana, apressada, perguntou. Ao que Henrique, confuso, retrucou: O que? Você quer? Você quer... engasgado com a palavra Henrique insistiu e conseguiu solta-la: Você quer meter comigo? Sem pestanejar ou fazer rodeios, Suzana exclamou com aquela voz de safada: Eu quero, quero muito primo e já faz algum tempo! Henrique, que não se fazia de rogado, já estava um pouco treinado no assunto, pois a Vi, uma das “Mercenárias”, tinha ensinado ele, depois do baile funk, a fazer gostoso. Subiu para o quarto da prima, que morava em uma quitinete de dois andares e dormia na parte de baixo de um beliche.
Na sala, que também era cozinha e copa, Suzana arrancou o short e a blusa e partiu para cima do primo, o pinto de aço, que lhe meteu a piroca desengonçada ainda, mas, como era a primeira trepada da Suzaninha, gostou e gostou muito do membro do primo, tanto que o comeu por três horas na madrugada, liberando o muleque depois da gozada do mesmo. Suzana, a falsa santa do rabo quente, a tochinha, tinha atochado com vontade o pinto do primo e, na manhã seguinte, estava toda ardidinha.
E como eu sei disso? Sou Júlio, o primeiro primo a foder aquela bundinha gostosa e magra, Henrique é meu irmão mais novo, muleque bom, danado e esperto esse. Como o ditado diz: “Quem sai aos seus não degenera.”


Joice Furtado - 24/03/2012

Sugestão bem-vinda do amigo Cavi Pessoa. Estou tentando um caminho nas palavras para chegar a poesia, vou continuar.

Moleque - eu sei que escreve desse jeito, mas prefiro "Muleque", é mais baixo.

sexta-feira, 23 de março de 2012

O ambulante

Foto: Inferno de Bosch


Venham! Acheguem-se!

Se são pragas que quereis
Vierdes à tenda certa
Se não, então espereis:
Sempre tenho a coisa certa!

Mas sim, vejo que quereis as pragas...
Todas elas eu ofereço,
Sempre por um justo preço,

Pecados capitais instituídos
E tantos mais,
Refúgios dos empossuídos,
Estas almas em desgaste e humilhação
Repletas de ais, e
Ingenuidade, muita
Ademais:
Maldade, gratuita

E eis os belos produtos...!

Soberba para os de grande ego
Cegos e ciosos de seus sonhos solitários
Aos que correm solo
Aos que negam colo
Aos apartidários
Aos caolhos, aos piolhos, aos malditos
E aos ácaros...
…E aos Ícaros!

Luxúria para os necessitados
Que às lamúrias se entregam,
Preocupados com seus pintos
E bocetinhas,
E jorram, com escassez,
Esperma e líquidos vencidos,
Por seus canais entupidos,
Masoquisticamente corrompidos, estúpidos,
Fingindo esperteza, em púpitos de imbeleza

Avareza para os ricos,
Os donos dos circos,
Corvos da ignorância,
Os banqueiros, e o estofo da classe burguesa, estes patifes
Enfiados em ternos de grife,
Com bonitas esferas luzidias sobre a mesa de centro
(Dentro: magma)
Entre tantas outras mesquinharias
Que se avaliam em milhões de dracmas
E que por fim perecem,
E caem
Numa piscina cheia por todo lado de lodo e merda
Insanitarizada

E então, como se nada:

Gula, o prazer em consumir
As coxas de um porco,
Engolir,
Através do tubo gutural,
As partes mais ímpias de qualquer animal de patas fendidas, ou
Sem vida. É o pecado do homem que se satisfaz ingerindo sebo,
Impuro,
Que sai à bunda de um porco morto em um monturo com uma maça e ora com uma maçã enfiada na boca,
Causando doença mórbida,
Proveniente da ânsia por movimentar os dentes,
Regar o estômago com cerveja, e onças e onças de carne em decomposição…

E a Ira, meu melhor produto
O menos fajuto
O mais inculto,
O mais terrível,
O mais original
Pois, por este, mata-se requintadamente ao seu igual
Sem nenhum motivo claro
As facas e as armas à mesa, legitimam a frieza,
E
Os demônios
Que brotam na escuridão,
Aplaudem a astúcia do criminoso
E o sangue e as tripas estendidas ao chão
Que sacodem de um jeito escroto...

Inveja,
Esta naja, a observar uma cereja no bolo alheio, que algum sacana surrupiou antes
É outro dos meus bons produtos,
A inveja pode ganir
Como um cão
Faminto por carniça,
E
Procurando companhia,
Para esta noite
Apenas para traí-la
Bendita a cobiça!
Tão logo a oportunidade desponte, e lhe sugira um belo golpe de punhal…

e
Finalmente,
Preguiça,
Este mal que atinge a tantos espectadores de missas,
A abraçar num urso-abraço o seu vitmado,
Devastadora
Via enfado,
Do gozo de viver,
Cabível
Apenas
Aos que não podem ver,
Nas coisas um prazer próprio,
Que fazem nela jazigo,
Ópio antiperigo,
E buscam suposta calma,
Largam os poemas, e a própria alma
E assim, vencidos e esmaecidos permanecem
Como mortos em vida

*

Pois bem,
Estais convencidos
Da utilidade de meus produtos
Meus comensais queridos...?
Eu juro: não são fajutos…
E também:
Não estão vencidos

Quereis pagar à crédito?
Oh sim, meus súditos,
Eis algo inédito:
Levando o Ócio junto,
E também o Tédio Nédio,
Faremos este acordo:
Não cobro juros


Joice Furtado e Cavi Pessoa

A melhor



Ludibriado e tolo homem
cai em ardores, envaidecido
ego de grande idiota, toma
a mais pura das donzelas
a melhor puta entre elas
e se diz racional em sua
total irracionalidade.

Joice Furtado - 23/03/2012

Ambulante


Venham! Acheguem-se!
Se são pragas que querem
Todas elas vou oferecer
pecados capitais instituídos
bestas feras pagãs, comércio
de almas em desgaste e humilhação
Nossos produtos não garantidos 
ingenuidade nenhuma, nem coração

Soberba para os de grande ego
Canalhas, sujos, malditos
promíscuos do inferno

Luxúria para os necessitados
pintos e buças, idiotas lascivos
escorrendo seus líquidos imorais,
moralmente corrompidos, estúpidos
homens e mulheres palhaços, fingidores
e loucos lubrificando seus vícios
fingindo esperteza, patifes boçais

Avareza para os nojentos, parvos
burgueses em seus ternos importados
roendo-se em mesquinharias, tristezas
consomem seus anos, endinheirados
drogados e mentirosos de si 
morrem como tolos, bosta 
povoando a mente, nela afogados 

Gula, prazer de engolir, freudiano
homem que se satisfaz na gordura,
lama imunda e insaciável lambança,
movimentar os dentes, beber de tudo,
amaldiçoado enchendo a pança

Ira, o meu melhor produto
por ela matam e morre o mundo
em sua total entrega, alegam defesa,
facas e armas na mesa, adorando
os demônios na escuridão aplaudem
o sangue e tripas estiradas ao chão

Inveja, como é alto o seu ganir
cão das trevas, levados a fingir,
amigos traem-se por ela

Finalmente, preguiça, destruidora
do gozo de viver, pertinente
aos fracos de espírito, deitados
nela e esmaecidos permanecem
meus fregueses queridos.


Os sete pecados capitais instituídos pelo Cristianismo.