No vale de ossos sertanejo
carcaças luziam, luzidias
a beira da estrada
empoeirada
rangendo, rangentes
dependurados fantasmas
secando ao sol
balançantes, almas perdias
Canudos
Corredor de sombras, vultos
perseguem o soldado, forasteiro
em terras de Marias, Joões
milhares
e de um só Conselheiro
Aqui as árvores são espíritos
selvagens
espinhos vorazes aflitos
armando tocaias
benditos santos
misturados a paisagem
odiados bandidos
Matadeira!
Vem de longe, vem certeira
Nem se pode carregar
Empurrar? Mais que desgrama!
Matando gente na lama, morrem
centenas, um mesmo azar
Cobiça!
Coronéis e partidários
Igreja e Governo
Unidos no propósito:
os santos excomungar!
Na estrada, a alma penada
dependurada no espinheiro
gargalha
ao raso que se apavora
no ruído do seu estalar
Os corvos lhes cumprimentam
Agoireiros
roendo as carnes nauseantes
fétidas carniças
dos mortos, jagunços errantes
daquele lugar
Bendigo aos visitantes do meu pomar!
Esturricados homens no rito
vultos dançantes, perdidos
Canícula
assando,
cozinha-os vivos
No alto carcará sorridente
quase nas nuvens
Ainda que nuvem não há!
Repara o aroma das gentes
soprando a morte seu cheiro,
das profundezas ele o sente
Carcará, carcará
com bico de cutelo
Não é urubu, mas um dia chega lá!
*************
Canudos, terra condenada
Bebe do sangue o chão
abrindo a boca engole
valentes e esperançosas almas
Mães, mulheres, amantes
Pais, filhos, avós
Soldados
Algazarra de vermes sugando
cada qual o seu quinhão
Eis que se cumpre a profecia
Antonio, o Conselheiro, alarmou
O Sertão vai virar mar!
Sobre a cidade banida, represa
cobre, mas não apaga vestígios
da arrogância, preconceito
contra o valente, sobrevive
marcas permanentes
na mente um grito:
Viva Canudos, massacrado, nunca vencido!
*************
Canudos, terra condenada
Bebe do sangue o chão
abrindo a boca engole
valentes e esperançosas almas
Mães, mulheres, amantes
Pais, filhos, avós
Soldados
Algazarra de vermes sugando
cada qual o seu quinhão
Eis que se cumpre a profecia
Antonio, o Conselheiro, alarmou
O Sertão vai virar mar!
Sobre a cidade banida, represa
cobre, mas não apaga vestígios
da arrogância, preconceito
contra o valente, sobrevive
marcas permanentes
na mente um grito:
Viva Canudos, massacrado, nunca vencido!
Joice Furtado - 30/03/2012
0 comentários:
Postar um comentário