sexta-feira, 27 de abril de 2012

Grandessíssimo




Voltava eu para minha casa, hoje, após a labuta, perto das 6 horas da tarde, quando do meio da multidão ouço, bem próximo de mim, um homem gritar: Filho da Puta! Seu Grande Filho da Puta! Tentando calar a minha voz! Eu não mereço tanto isso!
Ao ouvir o primeiro Filho da Puta, eu imaginei: Que diabos é isso? Será briga? Continuei em minha caminhada pelo centro da pacata cidade do interior, sendo que a voz continuava persistente: Filho da Puta. Seu Grande Filho da Puta. Uma ideia estranha veio na minha mente: Ouvindo vozes perto da Ave Maria. Será que o céu ou outra banda quer me dizer algo? 
Claro, nem me atrevi a olhar para trás. E o medo de constatar que eu estava tendo alucinações. Brincadeira minha. Tive receio de que o insano ou são-homem, Quem poderá julgar a loucura alheia?; identificasse-me como o "Filho" e partisse para cima de mim a fim de tirar as satisfações sobre o por quê de "Ele merecer tanto isso". Um minuto se passou e eu ainda ali, naquele impasse, o que será que esse homem está aprontando? A voz de revolta dele não me parecia estranha, nem me parecia tão louco ele estar gritando aos quatro ventos a tal insatisfação. Não olhei para trás. Talvez ele estivesse discutindo com alguém. As pessoas que vinham na minha direção, com olhares transtornados, passavam  quase encostando nas paredes das lojas, receosas de que o fulano perdesse de vez a estribeira. 
Estranho olhar para as pessoas e ver em seus rostos uma palidez mórbida e, ao mesmo tempo, amarela expressão de vergonha-covardia. Um: Esse daí tá pirado! ou Essa praga não tem mais o que fazer? Nossa hipocrisia diante das coisas é horrenda. Eu mesma fiquei confusa. Mais que depressa pensei: Vou atravessar a rua e ver o que está havendo desse lado, numa distância segura dos fatos. Disfarcei e parei na faixa de pedestres para atravessar em direção a praça principal da cidade.
De relance, eu reparei no sujeito gritalhão: Casaco verde, óculos e chapéu às seis horas da tarde. O chapéu poderia ser para se proteger da chuva que ameaçava cair.
Continuava a ouvir o homem esbravejando e constatei que, olhe só, ele olhava para trás e não havia ninguém, ao menos eu não vi o tal "da Puta" que ele tanto odiava. De repente, ao atravessar a passagem de trem, ainda ouvi: Filho da Puta! e cessaram os gritos do sujeito. Aliviada ainda tive um ligeiro pensamento: Algum policial deve ter abordado ele.  
Moral da história: Quando você sufocar a sua loucura, fingindo que não existe ou tentando parecer normal para os hipócritas que lhe circundam, saiba que ela gritará para os raios que lhe partam, para os tão ajuizados rirem da sua cara, para os fanáticos e delinquentes, os lunáticos e donas de casa, vendedores, lavadores de carro, pipoqueiros e para quem mais ela quiser: Seu grande Filho da Puta. Está tentando calar a minha voz? Pois é, você não consegue!

Antes um Filho obediente a si que um Puto obediente a todos.


Joice Furtado - 27/04/2012

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