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Contempla o espelho embaçado do ego
servil natureza a si mesmo conclama
Narciso, a flor do jardim de Hades
Segura-a, aos prantos, Perséfone na chama
Vista-te da aura, mais sublime coroa
rubis enfeitam teu olhar, homem esguio
Olhos, braços, mãos, peito torneado
Aos deuses compara-te, orgulho feitio
Pernas de mármore dos palácios
Apolo contempla-o, também Dionísio
Entorpecido diante a visão nas águas
em gotas de chuva do verão chegado
debruçado a se contemplar, homem-tolo
alucinação produz, Narcótico fantástico
tolamente mortificando-se no que reluz
Fantasias da mente, turbilhão enigmático
Silêncio no engano plácido, lago falsário
Eco repete o teu nome, amaldiçoa
a luz que a ilumina por ver-te um dia
murcham-se os lírios, a oliveira regride
ao rutilar nos olhos essa suposta primazia
Vaidade, companheira que te segue, resigna
Raiando o sol até o soar da última era
Dentro de si revolta carrega, insensível
Aos olhares, coração, da mais bela e digna
Conheça a ti mesmo, ó Narciso
sabes dos teus dramas, trama tudo sozinho
enrolado em ornada túnica, mortalha fúnebre
de todo pobre e insignificante caminho
A beleza que em ti supera, supera-se pelo orgulho
Fétido cheiro exalando dos teus espinhos
Narciso, Narciso
Quantas sobras mais comerás, roendo ossos na lama,
revirando teus entulhos mesquinhos?
"É que Narciso acha feio o que não é espelho."
Sampa - Caetano Veloso
Referências:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Narciso
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