sexta-feira, 29 de junho de 2012

As junções e conjunções


Inalações vaporosas
quarto suspirante 
ofega, trama das juntas 
poros intercalam-se 
cobertas
juntamos os corpos
quentes. Quanto almejo!
amo-te mais
quanto mais bebo teu gosto-
beijo algodão-(doce) lábio
(Par)que dos sonhos meus
divirto-me, sorris comigo
Desejo

Vambora?

Joice Furtado - 29/06/2012

Hummmm. Lembrou-me a boca do meu amor. ^^

Cadente


Luz do sol 
que é a coisa mais linda 
esse teu ajeitar
mãos ao meu encontro
Cabelos entremeias
areias que se agitam
sonhos alisam- flutuas
fios que me guia(m)
aos teus olhos
Faróis para mim- cadencia
pisca-dança-corre
Cadente venhas na poeira mágica
 coração ilumina 
Estrela do mar
Brilha!

Joice Furtado - 29/06/2012

Ao ouvir - Luz do sol
[Caetano Veloso]

De glória em glória



Rabisco meu 
Estratagema
frente às nuvens velozes

eu vou
soprando os versos
empurrando a chuva
Re(canto) dos olhos
seguro as águas 
Grito!
m-Ag(u)ada ainda não

meu guarda-chuva cadê?

feroz
entre as horas, minutos
escuto, estudo o íntimo
coração

entro pela porta estreita
Estreio-me
ignoro olhares desfeitos
Re(faço-me)-u guia

Sou dor e força
Levanto-me bandeira
e tremulo- vitória constante
viva nesse peito
de glória em glória

Poesia 


Joice Furtado - 29/06/2012

Eros porque te quero


Deslizam plumas douradas
flutuam até o vale
sob olhar mensageiro
Narcótico de mim
de(leito)-me(u) travesseiro

Aspiração entre paredes
e fora delas
pelos cantos sussurros- flecheiro
procuro os botões da blusa
desato-te por inteiro

Amor

Desejosos que somos do todo
Suspiro(s)
segredos quem os têm
entrega
Reagem à ação certeira

Eros porque te quero
Sonho-te
fantasia(s)?
encontro no calor na cama

volúpia percorre
mãos, pernas, boca em músculos
alimento-me
sobrevivo
feminino pêndulo
com(passo) de tudo que há

Vivo

E ao olhar para o lado. Eros(me)hipnotiza
eis que sou minha(e) tua Psiquê
Alma
com um quê me entrego


Bonito
Psiu! Amo-te sem cessar

Blog Lenda, Cultura e Arte - A lenda de Eros e Psiquê

Joice Furtado - 29/06/2012

quinta-feira, 28 de junho de 2012

Dos prazerosos manjares

Foto: Alicina

Chicote acomete carne branda
brandida arma
na doutrina marca vergão
saboreia voraz- a Casca branca


seiva escorre dos veios inferiores
Liber(adas) folhas ao vento
(flo)ema de xi(s)Lema
medi(a)dores fluídicos
(c)ambia feridas por sensação


tronco oferecido arranja-se
vaso em formato oblíquo
ângulo de forma
complementar
lanha a vara, esmiúça
trincha desejos sem parar


percorre ávida, ignora limites
sobe montanhas, voa aos céus
entre céus e estrelas vaga
estimula emoções e freme
ousadia não lhe falta
moldando sua verga à imagem
acomoda traços- Renova


lancinante alvoroç(a)lma
submetida ao regalo extremo
motim no navio
extasiado por mundo a toma


E(leva-lhe) aos altares diuturnos


Linguajares metidos em serenos
bocas com bocas sob a lua
santa ou vulgar
poetas de si são os remos


a língua-paixão arrasta e prende
subverte -ainda assim- calma dona 
não abusa. Só envolve, revira, sulca
DOMA

Joice Furtado - 28/06/2012

quarta-feira, 27 de junho de 2012

A língua com que brincas




Brincas com a língua
ávida, marota, faceira
passeando nua pelas ruas

de flores, de cores, anestesia
olhar tuas costas, palma
estende as mãos à lua

usa os dedos, liberta-os

radiante caminhas entre pelos
poros, joelhos, peitos
são teus e de mais ninguém

a força habita neles

abra a comporta
deságuas entre começos e fins
recomeça o passeio
nada há de se comportar 

Palavras

Ousada musa de prima-V(e)ras
Claro que sabes como brincar
Ob-Escuro não é o sentimento

com claras rimas ClaReias
do rio buscando o mar
esticas as palavras, ondulas
a carne em desassossegos
Não há medo, Media desejos
desata os cadarços que estrangulam
os ignóbeis de pensar

Joice Furtado - 27/06/2012

Os painéis interiores

Colore as mãos, unhas e cabelos
também o peito
acalenta e grita
mil paletas existenciais


vermelho-fogo 
nos olhos
íris re-Tinta das emoções 
pisca-rebrilha-reflete
arco de sons
palpitam
envoltos 

sentimentos em nós
apertam a árvore-seio
interior

Colore os painéis do mundo
teu
olhar
de dentro para f(l)ora

abotoando as sensações
Amo(rosas)
diretrizes como tais

Sacuda o pó das sandálias
Linda de viVer
Liberta (e)la

Pensa
Materializa-te esfera
sonhada trama 
dança entre as pétalas 
espalha os aromas

de ser magnifico
Mulher 
plena em teu caminho
Pulsas!

Joice Furtado - 27/06/2012 

terça-feira, 26 de junho de 2012

Os olhares vadios


C
a
i

a tarde
enquanto 

aTr
(A)
ves-
-so 

a faixa de (pÉ)destres 
olho para o céu
imaginando besteiras
desse

sapato maldito
aperta o pé e o calcanhar
esfo(l-a-d-o
entupido de esparadrapo
bege

as formigas atÔmicas dessa cidade
poderia explodir em mil pedacinhos estruturais
os quais não têm

cômica_Mente
penso

devo ser ainda normal
quero fugir de tal parecer 
Med(í)ocre

adiante avisto um maluco-
atento
enrolando um cigarro de palha
ou sei lá que porra é aquela
compenetrado
palavra bonita quis dizer

aquele bagulho 
de estar sentado no viaduto
olhando a folhinha cor de papel de pão
pior VIaduto que começa e termina
no mesmo lado do rio
e o frio
sopra a fumaça para amenizar

próximo da casa
ali onde tem o mata-burro

interiores risos

com asneiras demais Menos-mal(vad(i)a)Mente
burros 
quem os quer matar?

Joice Furtado - 26/06/2012

Dos olhares vadios ou As obsessões quotidianas 


Os múltiplos Viveres



Que sou ar e fogo. 
Água? Um-pouco
dê-me bebida aos goles
vinho por horas Vo(u) alto
Sopre-me ar, acenda-me fogo
reconheço-me e gosto- incendiária
Mulher.

Das liquefações tenho dito
arrisco o mar Adentro
inquieto tranço braçadas
com efeito
mimetizo-me

(C)antiga, cantarolo antagonicamente
nado contra, mas nad(a) o que é 
lanço as pérolas, busco significados
dicionário das lembranças passadas
rememora o que se sente
do crepúsculo à alvorada
de nós
Luz e sombra

No Jardim interior
secreto mundo beija- flor
aqui me escondo dos ais
perfumosa terra molhada
Volátil, eva(poros)-a 
colorindo meu corpo
eu me enfeito -Borboleta
por horas

Voejo

Joice Furtado - 26/06/2012

*
Tantas que sou e um só viver.

Ame a si mesmo - OSHO

Quando as asas se aprumam



No Jardim interior
secreto mundo beija- flor
aqui me escondo dos ais
perfumosa terra molhada
Volátil, eva(poros)-a 
colorindo meu corpo
eu me enfeito -Borboleta
por horas

Voejo 


*
Quando as asas se aprumam - 
De lagarta à borboleta 

Transformando a minha maluquez, misturada com minha lucidez.
[Raul Seixas]

Joice Furtado - 26/06/2012

Das liquefações do ser

Das liquefações tenho dito
arrisco o mar Adentro
inquieto tranço braçadas
com efeito
mimetizo

a mim com todas as oras
horário dos (IN)possíveis
oro e exilo o fardo
roto pano nos lodos

mortuários dos enganos

junto as palmas rosas e brancas
ofereço flores a corrente
com sorriso e pranto
vagas sobre vagas em natura
meu rosto afaga pass(ando)
ao passo adorna seu manto
um quê

o acreditar provém de dentro
nada mais 
ondulante esfera viva
viver-lhe é quando imagino
pelos dias e noites tristonhos
sem sono na madrugada

Aninho-me aos fios da coberta
com ânimo para recomeçar

(C)antiga, cantarolo antagonicamente
nado contra, mas nad(a) o que é 
lanço as pérolas, busco significados
dicionário das lembranças passadas
rememora o que se sente
do crepúsculo à alvorada
de nós
Luz e sombra

*

Das liquefações do ser ou
Entre as profundezas do oceano e as lagoas de coral


Joice Furtado - 26/06/2012

Do gosto pelo fogo



Que sou ar e fogo. 
Água? Um-pouco
dê-me bebida aos goles
vinho por horas Vo(u) alto
Sopre-me ar, acenda-me fogo
 reconheço-me e gosto- incendiária
Mulher.

Joice Furtado - 26/06/2012



O mito da Fênix 

segunda-feira, 25 de junho de 2012

Ícaro



Que meu nó
este
a me apertar
desejo ardente
beijos no pó
D-estrelas 
alcancei

Seu-olhar

Joice Furtado - 25/06/2012

Inspirado no poema Rabisco de Domingos da Mota

V-Instinto a fera



Enfeito o novo com zelo
Amor
dente-de-leão afia garras
desfaço-me do morno
borro o peito 

negro, branco, amarelo ou vermelho
cor-de-rosa

pant(H)era 

caço-lhe pelas ruas
olhar de arredia felina 
eu lhe toco, eriço os pelos
arrepia-me leve sussurro 
toque de mãos macias
p-ous(e)m Minha nuca
ousada

tomo-lhe os olhares, desfaço as malas
requebro desse jeito
refiguro-me ao seu lado
costela achada 
um abuso

marcada em ardor pimenta
tr(A)ço de navalha afiada
bravia faço efeito
quebrando com minha vaga 

rara
não me canso, não lhe falo
vou e venho, vaivém
dou a (con)torcer- do que me valho
sua sede

roupa minha, vistam-me seus poros
pelos em que a mão brinca
desliza pelos botões, calça
que me tira, retira
do sério

e se ri satisfeito
tomando todo suco
achando-se complexo
nosso estado
um tanto gasoso, vapor alcoólico

descomplique-me o trajeto
redobro esforços
capricho nos gestos
pantera mulher
fera-Maravilha!

rubes(c)ente lua
cresço ao sol poente
aviste-me pelas costas
brancas-rósea 
N(u)Astral
sempre quente.

Joice Furtado - 25/06/2012

Me Viva - Laura Pausini e Tiziano Ferro


Não preciso mais de nada agora que
Me iluminou teu imenso amor fora e dentro

Creia em mim esta vez
Creia em mim porque
Creia em mim e verás
Não acabará mais

Tenho um desejo escrito no alto que voa já
Meu pensamento não depende do meu corpo

Creia em mim esta vez
Creia em mim porque
Me machucaria agora, já sei

Há um grande espaço entre você e eu
Céu aberto que já
Não se fecha aos dois
Porque sabemos o que é necessidade

Me viva sem medo agora
Não importa se é uma vida ou uma hora
Não me deixe sozinha desse jeito
Meu novo espaço que agora é teu, te peço
Me viva sem mais vergonha
Mesmo que esteja todo mundo contra
Esqueça a aparência e preste atenção no sentido
E sinta o que levo dentro

E te transformas em um quadro dentro de mim
Que cobre minhas paredes brancas e cansadas

Creia em mim esta vez
Creia em mim porque
Me machucaria uma e outra vez

Sim, entre minha realidade
Hoje tenho algo mais
Que nunca tive antes
Precisas viver-me um pouco mais

Me viva sem medo agora
Não importa se é uma vida ou uma hora
Não me deixe sozinha desse jeito
Meu novo espaço que agora é teu, te peço
Me viva sem mais vergonha
Mesmo que esteja todo mundo contra
Esqueça a aparência e preste atenção no sentido
E sinta o que levo dentro

Você abriu em mim
A fantasia
Me esperam dias de uma ilimitada alegria
É teu roteiro
Minha vida
Me enfocas, me diriges, pões as ideias

Me viva sem medo agora
Mesmo que esteja todo mundo contra
Esqueça a aparência e preste atenção no sentido
E sinta o que levo dentro

Fonte: Vagalume

Essa música tocou profundamente o meu coração. Repito: Viva-me!

Pelos travesseiros de pétalas

Beltane que lhe beija
face emoldurada assim orvalha
lágrimas sobre lágrimas desejo
alegrias
fértil (H)era intimada

ao En(L)ace

Exale seus aromas pelos campos

Fogo entre fogos alimento
alma aflora dentre os meios
Florália arfa
seus adoráveis peitos

dança que dança fagueira
levanta as saias vaporosas
sabor das labaredas faceiras
afogueiam mitos e rosas

Primavera 

União de sentidos
quebre o gelo do inverno
nossos anéis meu consorte

Entre grãos, flores e frutos
vermelhos como rubro sentimento
com pão e vinho recebo-a
retire de mim os lamentos

vence com vida a morte

Chegada a alvorada, corpos extasiados
pés e mãos em um mesmo cacho
ninfas da floresta despejam
ramagens com orvalho em nós
namorados

Que lhe visto e revisto
desabroche em meus braços
entre pétalas e travesseiros
nuvens em compasso
faço-lhe Deusa destile-mel
minha boca, seu regaço

Baseado na história de Beltane  - Fonte: Site Circulo Sagrado

Joice Furtado - 25/06/2012

‎"Se fosse possível observar claramente o milagre de uma única flor, 
toda a nossa vida se transformaria."
[Buda]

Que sou água derramada


Viva-me intensa
imensa e intrinsecamente
abra-me os poros
dance nos sentidos
re(alce-me)
corpo, mente, pele
janelas de viver
gozo que passeia por mim
trans(c)orrendo as entranhas

Viva-me
de peito aberto, alma limpa
n-os céus des(C)ortinas
enlaçamos as mãos em sonhos
transparentes

Como dois que um só não basta
em amizade e amor des(perto)
cada doce rosa, em seu rubor
desprovida não está do espinho
rejeitamos ácidos desertos

Bebamos ao Nascente
Sol que nos ilumina

Viva-me seus olhos, olhares
apegados como grãos que somos
construindo o tudo, mesmo mundo
em não variáveis lugares
dunas diferentes misturando-se
só coração e retina

Sejam lavrados sem pudor
Sejamos a primavera e o regato
nas árvores brotos, novo ninho
aconchegante calor dos braços

Viva-me, assim me debruço
qual água derramada
entre os filetes seus-Vãos
filigranas

mãos, pernas, colo e sexos
abertos em linhas expressivas
recanto meu-
recato que desaparece
Re-Vivo
De-Novo
ante extremo desejo-Seu


Joice Furtado - 25/06/2012


Sabe o que descobri? Que minha alma é feita de água. Não posso me debruçar tanto. Senão me entorno e ainda morro vazia, sem gota. 
[Trecho do livro: O fio das missangas - Mia couto]


*
Você saberá que meu trabalho é amor. 
Eros Ramazzotti

domingo, 24 de junho de 2012

Dos flashes tão humanos


Andava pela rua, cabisbaixa. Contava os paralelepípedos e percebia que nem todos são iguais. A rua, por causa das chuvas de verão parecia tombar para o lado direito onde se encontrava a galeria de águas a qual estava coberta, mas corroía àquela, por baixo, feito uma doença terminal. A chuva fina e fria caía sobre a paisagem que se tornava branca, enevoada. Como dizem no interior: Era a serração que vinha com o chuvisco. As casas grudadas de um lado e do outro do caminho, todas escuras. Não se ouviam risos, nem gritos, nem falas. A gargalhada de uma criança ou até mesmo o "Vai se foder!" de um bêbado traria vida àquela monotonia. Uma atmosfera tão morta quanto as ruelas de um cemitério, onde, caso tenham esse gosto pelo estranho, durante a noite deve haver bastante agitação feita pelos ratos, baratas, ossos estalando, gás metano liberado dos corpos em putrefação nas sepulturas, fato que  provoca chamas amedrontadoras (fogos-fátuos) as quais muitos acreditam serem fantasmas batendo um papo de madrugada. 
Voltando à rua. A chuva fina caía como giletes do céu. Cortante, dolorida. O peito ardia e a mente pululava entre várias suposições, questionamentos, conclusões e desatinos. Cada pingo doía a alma. A alma perturbada pela tristeza fica mais suscetível a essas dores mínimas, dores que se tornam tempestades violentas dentro do peito. Caminhava e parecia que quanto mais andava, não saia do lugar. Passos molhados, passos desgostosos. Um exilado de mim, pensava. O que estou fazendo? Sempre uma pergunta ecoava na mente. Os poucos anos vividos atravessavam o caminho como flash-back de um filme mexicano. Atitudes infantis, convencimentos alheios, falta de amor próprio, falsos-amores, humilhações, ingratidão, perdas. Até ali eu não era. Pensava ser e essa conclusão era o espanto torturante. Como os urubus que estraçalham a carniça à beira da estrada, bicando e bicando. A sensação de perda, de traição das vontades próprias é a própria morte, constatação da impotência, do comodismo horroroso ao qual alguns se submetem. Vergonha! Eu pensava. Como pode? Será que é desse jeito? O ser humano desce até os vermes com o intuito de ser Sobre-Humano, mostra sua face imunda. Só quem se cala, afasta-se e observa ao longe, compreende. O silêncio da rua aborrecia-me, assim como o falatório também me aborrece. Sou meio a meio. Meio ar, meio fogo; pouco ódio, mais amor. Intenso amor. Toco fogo no mundo por causa de um argumento ou sensação de injustiça, tanto cometida a mim quanto à outra pessoa. Seguindo pela rua, a chuva aumentava e meu corpo já sentia o frio daquela, que por vezes, amo, chuva. As lágrimas que apertava nos olhos, queriam de toda maneira sair, mostrarem-se para a chuva, enfim dizer: "Vai se ferrar que eu não me incomodo com você!" Até esse pensamento era enganoso. Tinha medo de mostrar para a chuva que ela estava lavando a minha dor, retirando as sombras da alma cansada, apagando todo Ego que de nada vale, uma vez que até a água proveniente do céu é mais forte que nós, seres estritamente "humanos". Os que ainda são humanos, pois constatava, por aqueles dias, que têm muitos "não-humanos" entre nós. Observava os flashes da vida, vindo e indo e, quando o ódio aproximou-se do meu peito para emitir sua ferroada mais ácida, algo me disse suavemente: Estou contigo! Subitamente, a força voltou e os olhos que apertava para não saírem as lágrimas, deixei que fossem livres. As lágrimas de desgosto rolavam pela face e se misturavam a água do céu, essa tão fria, com minha profusão de sentimentos quentes. Um insight ocorreu-me: Estou contigo! Você está comigo? Abra mão do que imagina ser e busque o que imagino, com humildade. Inconforme-se, descompreenda-se! Beba. Tenha sede. Passeie comigo e lhe mostrarei. Essa é a direção! Vamos? Entendi o que me dissera, amenizando aquela sensação terrível, segui o caminho com a companhia em meu peito. A chuva também entendeu e, quando olhei novamente para ela, parecia-me viva. Uma amiga que não queria deixar-me passar por aquele momento sozinha. Concluí ao chegar à porta de casa: Ela, sempre ela. Nunca me abandonara. Sabedoria, Eu te amo.

Joice Furtado - 24/06/2012



"Cada um tem a sua vaidade, e a vaidade de cada um é o seu esquecimento de que há outros com alma igual. A minha vaidade são algumas páginas, uns trechos, certas dúvidas..."


Trecho do Livro dos Desassossegos - Fernando Pessoa

sábado, 23 de junho de 2012

As peregrinas mãos



As mãos entrecruzadas
passeavam qual mariposas
entorpecidas pela flamante
voejando pelo caminho encantado
ilustração do belo em linhas
finas delicadamente formadas


As mãos não se continham
de tal modo agitadas e sensíveis
saboreavam os pelos, pores-do-sol
fins de tarde nas costas nuas
luas avistava mui lindas
chamavam-nas total atenção


os montes da Vênus, sagrados picos
florestas esparsas figuravam ali
loiras, róseas, fronteiriças matas
mananciais brotavam naquele leito


de pedra lisa, aprumada e sedosa


as mãos enxergavam, visão sobre-humana
dedilhavam o calor advindo da alma
apanhavam Calor-fios com terna emoção


Viajantes mãos deliciavam-se
em suas faces, fantástica viração


cores espargidas naquele lugar de sonho
ouvia a música sensorial através do bosque
ecoando as ninfas em canção
calorosa pelo ar úmido e perfumado


Aquelas eram as mãos mais felizes
quais outras jamais existira
mãos conhecedoras de tudo, amavam
am(antes) nunca igual conheceram


AconCheguem-se versos
delineadoras
palavras


Romeiras mãos, (pele)grinas
por caminhos, curvas, distâncias únicas
admiradas da paisagem, faguei(rosas)
fotografavam toda direção
retinas insólitas


Diária peregrinação


Joice Furtado - 23/06/2012


Faço paisagens com o que sinto.
Trecho do Livro do Desassossego - Fernando Pessoa 

sexta-feira, 22 de junho de 2012

Palavras de alta-costura


(H)A
essência no ser incomum sublima
Casulo onde se formam
borboletas V(entre)linhas

os vestidos que vê agora
sonhos dependurados alçam
cabides ousados em vitrines
de luxo, paetês e canutilhos
plumas que não as quero

dispare
o gatilho
toda arte, tudo en(C)aixa
sem pré-definição

transparência
en(C)arte desse (Im)perfeito
aTitud(em)ação
alta-costura, (A)linha-vamos palavras

Cartando os papéis
solto-os na ramagem 
imaginativos rebrilham livres vidas 
voando escritos respectivas linhas

De que vale o encartado?

(En)cante-se o vind(O)uro saber
abrindo com desVelo o peito

Joice Furtado - 22/06/2012

A transparência de ser

(H)A
essência no ser sublime
os vestidos que vê agora
sonhos dependurados alçam
cabides ousados em vitrines
de luxo, paetês e canudilhos
plumas que não as quero

dispare
o gatilho
toda arte, tudo en(C)aixe
sem pré-definição

transparência
en(C)arte desse (Im)perfeito
aTitud(em)ação
alta-costura, (A)linha-vamos palavras

Cartando os papéis
solto-os na ramagem 
imaginativos rebrilham livres vidas 
voando escritos respectivas linhas

De que vale o encartado?

(En)cante-se o vind(O)uro saber
abrindo com desVelo o peito


Joice Furtado - 22/06/2012

As armaduras do poeta


Disseram-me: tua arte é lixo!
lixo-me com isso
disparo minhas unhas

pedra, papel, mão, caneta
há sempre um besta
que não sabe o que falar

enleados em restos, formados monturos

violam-(s)-elos, fracos humanos
em (si)elos de pura escuridão
voam tantas barat(a)s
pragas advindas do chão

bichos arrolam-se escrotos
articulados aninham-se em meias
enganam-se asneiros
palavras 
são poder e tesouro
armaduras para lutar

*
A grandeza não consiste em receber honras, mas em merecê-las.
Aristóteles

Joice Furtado - 22/06/2012

quinta-feira, 21 de junho de 2012

Muito mais além


Re-(a)lce
voos mais altos 
plenitude encontra-se
busque-(a)í nas asas
bem perto, profundo
fundação dos desejos
raízes lindas espalha
destile aromas Acácia
acaricia todo olhar
seu sorriso facejo
quão belo esse face(AR).

*
Realçou-me esta ideia. 

Joice Furtado - 21/06/2012

A trilha sonora


Metes-me a mão no vaso
criado o caso que sou
criador
de mim entre nós
desato coração em águas
tranquilas ou corredeira

sigo inteira, autorizo-me
atuo

ainda que remende cacos
cola eficaz de mulher 
restando as marcas aparentes
são linhas para experimento

oceano misterioso cativo
um olhar nas vagas
agitada a alma deliro

com mil interrogações

construo e reconstruo
sempre uma praia, lugar
amo tanto, um con-tudo
pouco estranho o Amor

refúgio dos deuses

a dor que deveras sentem
começa e termina ali
levadas areias do tempo
rio-te, vento beiçudo
brincando de formar
reformulo os preceitos
conceitos de tudo

dor, dor no olhar
dor na alma e nas cordas
dor, ma(i)s alegria percebo
esfrego-(A)s, aperto pestanas
firmo dedos, bato pés e palmas
retine coração

afino o som óh instrumento
escorrem dos olhos, redobro
música tema- (s)oada emoção


Joice Furtado - 21/06/2012

De dentro para fora




Degredado
enforca-se com própria corda
enquanto fumo um cigarro


ao coçar minhas partes íntimas
avisto-te
rastejas pelas escórias
os vermes tuas companhias
refestelam-se na carne morna


J)actân(c)ia
de dentro para fora-expulsas
exploram-te larvas, contaminam intestinos
bolos sobre bolos com massas
ovas dos asquel(m)intos


que são especialidades tuas
seres das sobras, sobram-te
miséria(S)calamidades
instaladas na mente 


difusa, deterioras e goza
o esperma dos podres humanos
virando-te (coisas Viram
o inferno nos olhos queimando
(ó)leos da maldade


que tudo vê, nada enxerga
Hórus sem oras para ti
orações são como incenso
bálsamos não-derramados
sobre areias de cemitério


por fim continuas vermiculado
entremetido espumas sempre
provas bocas das bocas bueiro


R-etro(G)rado

Joice Furtado - 21/06/2012