terça-feira, 31 de julho de 2012

Versoneto com mel



Teu todo peito, ouvido, prece
ao som bendito dessas veias
ar-fogo, suor de lindo corpo
com orgasmo meu sol aquece

Sou arco-Íris que me conquista
beleza plena ousadas entranhas
por ti em delírios a mente insta
invento-me contigo em manhas

desabotoo os botões das rosas
purpúreas pétalas que carregas
sob olhares absortos me tocas

afaga lira do coração as cordas
sorriso jocoso no canto da boca
onde me escorro e transbordas

todo m(el)
desejo!

Joice Furtado - 31/07/2012

Enquanto os cães ladram

Foto: Igor Morski
Vejo a guerra latente no horizonte
cheiro de ódio e sangue, o confronto
tão insinceros em maquinações
fantasmas e suas atribuições
mercenárias declamam horrores

Eu, no meu casulo-moribundo
vejo também os que se ajuntam
os tais ressentidos com mortalhas
sujas pela lama da estrada barrenta

essa praga que ao secar queima os olhos
vejo seus ossos estalando e os cães ladram
ganem pela noite adentro em mil delírios
profeta-mendigo rei-ladrão ou asno falante
execro idiotas que cagam goma sem razão

eu vejo a grande travessia dos vultos
espinhos, lampejos de amantes-sombrios
esses reluzem como esqueletos sob o sol
animais maus em sua gasosa putrefação

corpos franzinos despejam vômito da boca frouxa
vejo a paga da vã-constelação asteróides-irmãos
com egos inflados feito sapos coaxando no lamaçal
enxergo já que ver é pouco porque espero observar
o disparar das armas entre os cascalhos do quintal

aspirações derribadas de arrogantes azedos
memórias devassadas pelo pavor-medo indizível
tantos erros descritivos auto-falantes
ressoam aos berros cotovelos doídos do desprezo

eu vejo a volta ao mundo em um segundo
juras revanchistas mascaradas entrelinhas interpostas

eu vejo e me rio por dentro mesmo mudosou o mau-bem que ainda rebaixa-exalta
sua(s) suposta perfeição meu asco derrama
as podridões imensuráveis da alma ferida

aquelas não temem latidos vãos

Joice Furtado - 31/07/2012

Por um quinhão


Minhas ganas do teu corpo
sussurro rouco nesse ouvido
gemido fremido meu sufoco

transbordam os poros desejo
violar as leis estabelecidas
ser o céu-profano guarida
aos violentos espamos deixo

um quê suspenso no ar morno
atmosfera semi-aberta marginal
sobre teus peitos ávido mordo
libero a fúria existente animal

noturno, diurno, semicerrados
olhos de desejo fixos na derme
injusta mulher que me consome
a luta entre eu-mesmo eu-ela
pensamentos indecentes torno

cavaleiro montando a besta-fera
das entranhas sedutoras revela
ser escondido prendes-me tanto
quanto guardas-me todo encanto

no mundo, do céu, mar e estrelas
entre as tuas pernas constelação
brilham os seios mimosos enfeites
vaivém cadente sondáveis cometas
percorrem anos-luz por um quinhão

dos teus mais ousados deleites


Joice Furtado - 31/07/2012

Da arte de ser louco


Minhas ganas do teu corpo
louco
sussurro rouco meu desejo
louco
estremeço ao arfar teu gemo
louco
não há juízo bastante ou pouco-
louco
que sou por teus ardentes beijos
louco
invado teu domicílio em desassossego
louco
conto ao mundo os segredos ocultos tão
louco
rasgo o peito converto-me em pássaro e voo
louco
ao espaço de nós apegados um no outro
louco
apaixonado, abrasado e cheio do zelo
louco
mente, corpo e coração 
louco
em ondas paranoicas atravesso o oceano
louco
no degredo avisto a terra-mãe e choro
louco
com esse amor queimando minha alma, tão inútil 
louco
sou refém da caverna úmida de encanto voluptuoso
louco
prossigo, invernos e primaveras, tornei-me bicho-fera
no sereno, na tormenta, nos charcos, na floresta
fora de mim, tão dentro do universo suspenso
pelos raios, ventos, trovões em tempestades
sou vivo-morto, um todo, metade-ignoto, transformado
enquanto persigo a tua indecência, excremento torno-me
universo de estopa vazio quando me enches o anseio persisto 
[em ser
louco
para sempre 


... ou até a devoção passar


Joice Furtado - 31/07/2012

segunda-feira, 30 de julho de 2012

Por todo o corpo

Foto: Joyce Tenneson
no ninho da noite
por todo o corpo
reveste com prazer
teu suor horizonte

calor frutuoso
desfruto-te
tal e qual Eva
jardim de delícias

escondidas mordidas
por todo o corpo
meu horto florestal
aorta sanguínea

levo-te comigo
em cada veia
sinto batidas
estremecimentos

moleculares átomos
por todo o corpo
teu cheiro impregna
sexo, sedução, lascívia

línguas, mãos e pernas
entrelaçamentos
por todo o corpo
ferômonios comunicam-se
agitações sensoriais

no ninho da noite
da cama o lençol
linho-trama-linho
alinha-me no corpo
presente és
por todo o corpo

achego m(eu)
eu navio
porto de mim
busco-te
Joice Furtado - 30/07/2012

linha-corrente-linha


Sintética 
onda
diversa
palavra
cerebral
balão
ascendente
nuvem
sintética
massa
estética
condicional
parabólica
ética
pouco
normal
encurta
segredos
estaciona
direito
reto
ultrapasse
sinal
complexo
emblemático
movimento
fugindo
correntes
cristalinas
estatizando
olhares
sintáticos
assintomático
que sou
louco
completo
enfatiza
psicológica
onda
Sintética

Joice Furtado - 30/07/2012

domingo, 29 de julho de 2012

O enxergar das mãos



Escuto-me no quarto vazio
dou piruetas, rodopios
giro ao encontro do ser

encontro-me nos cantos
entre uma rua e outra 
sonhos na mente

arredia entre pensamentos
sou sol, nuvem e desejo
sou mulher

profusão equatorial dilata
a alma água em ebulição
tento mais quanto posso
posso tanto nesse coração

laço de fita atado respeito
meu amor-tesouro, minha raiz
inundada em princípios
Conservo

quem me sente com olhos
e me enxergue com as mãos

o cume e a várzea
latitudes, longitudes, intempéries
nada desgasta o Verdadeiro

coisa rara é ter Amor
dele reconhecer a dimensão

amor com amor e virtude
fazer de si no outro
prolongamento

ainda que hajam momentos
repudio o mal, vou em frente
sempre valerá a pena

Joice Furtado - 29/07/2012

sexta-feira, 27 de julho de 2012

Em um piscar de olhos

Imagem: Alexey Kurbatov
Enfeita-me o peito
cheiroso, mui gostoso
ritmo balança o leito
ecoa o quarto
ventil(a)dor
esparge deleites
de sussurros gozados

rastros de roupas
espasmos ao chão
a casa emudece
germinam sementes
florescem os ramos
cachos dos cabelos

mil e uma cores
na íris que se perde
um meu em teu meio
unha a unha
costas lanhadas
pernas em amarras
rasantes pousos

marcadas veias
por todo o corpo
fazes morada 
carne em(carne)
rosa, amarela, vermelha
sangue corrente
hemoglobinas combinam 
contigo passeio

com todo plexo
dedos apontados lápis
marcadores convexos
circulas o mundo em segundos
e essa mente de horizontes
quero
abrange-me?


Joice Furtado - 27/07/2012

Meditação

Imagem: Surreal Photo Manipulation
dia quente de doer
a alma do asfalto exala
hálito do dia 
borracha de pneu queimado
óleo diesel e gasolina
evapora dos tanques adúlteros
errados trocos de volta
pelas esquinas - bocas de lobo
vorazes cheirando cerveja choca
urinam nos postes cachorros-homens
de areia despencam prédios armados
concretos de ostras passadas loucos
por falsas licitações na enxurrada
que cobre as avenidas Cidade
maravilha quarenta graus

Moradores de rua e suas cobertas
vultos desaparecem na penumbra
capas de pano sensivelmente ralas
cobrem a consciência ou não
frutos da caridade massificadora
pela miséria e destruição imparcial
do povo humilde
grana, sempre a grana, mais grana
drogas e poder de mando
escorregam as casas do desandado
morro de vergonha
metralhada a esperança de vida melhor
alavancar a vida em troca recebem
infortúnios e desonras

muitos lados da falsa moeda
com a qual ocorre a compra
usufruindo privilégios a custa 
dos assalariados trabalhadores

ascensão do carregador-de-mala
sacana e falastrão
em seus trajes existencialistas
deitando na própria merda
degustando nacos de lama 
do desespero gasoso 
erro putrefatório do ar nas narinas
seviciando a mente dos ambulantes
catadores de papel, executivos
jornaleiros e taxistas

Ao raio que partiu
ao meio dia a canícula
de cachaça e marmita 
azeda no capo de Brasília
virando a rua entre Cacha-prego
e a cochinchina desse lugar
nada imaginário chamado de 
terra Brasil 

Joice Furtado - 27/07/2012

quinta-feira, 26 de julho de 2012

Bem-te-vi ama(r)elo


Bem-te-vi
meu abrigo
sonhei contigo
a noite que pari
[bom poema


multicolorido
eu vi e me fazes
tão bem, eu vi
o parto do sonho
quando falavas para mim
Bem-te-vi


no galho da goiabeira
no cume da amoreira
no ninho à beira
[do poste de iluminação
pública no alto


limpando as penas
amarelo-peito
eu te vi, meu bem
desse jeito
pronunciava bem perfeito
que olhas por mim
[até quando se apagam as luzes
do sol do grande dia


eu vi
a pino a estrela brilhava
meu coração bem-te-vi
aprumando-te entre fios elétricos
raridades
canto o teu cantar contigo
Vi vi vi Bem
te vi vi vi
meu bem


Ninho de Bem-te-vis perto de casa. Lindo!

Joice Furtado - 26/07/2012

Abarcados



Na penumbra do salão
os olhares emanam
fulgurantes irradiações
enamorados
corações de mesmo ritmo 
passos sonhadores 

dois pra lá, dois pra cá

no peito milhões de cores
galáxias soltam faíscas
que só esses podem enxergar

dois pra lá, dois pra cá

Abarcados estão em quimeras
que flutuam tal qual primavera
espalha perfumes

e nos olhares, sempre acesos
permanecem atentos
corpos, almas-desejos
a música para
[sorrisos continuam
muitos luzem

Joice Furtado - 26/07/2012

A-barca que me encanta os olhos


Na penumbra do salão
mundo de ocaso
desapareces então 
[suspiro
      a dor no presente
      a falta constante
      o sorriso não dado
      o toque do ainda desejo
      o olhar que chama 
      a saliva chorando a alma
      os apertos das mãos na cama
      lençóis amassados
      resquícios do cheiro
      suor amante
viaja sempre comigo

Em pensamento 
na dança das horas
brilham, luzem como astros
rostos sonhadores
faíscas de encantos
não alimente os prantos
ata-me ao teu lado
                                     em cada instante
                         verso dobrado
                         noite de inverno
                         no dia de sábado
                         feriados também
                         já me revira o desejo
                         enlaça-me no peito
                         sem pudor ou desdém
                         recebo-te e me dou - Volta
amado Amor

abra(s)ado perfume
espalha em mim a primavera
emanações fragrantes
linda quimera
cúmplices idades
temos mão com mão
dedos e pensares
                    resson(a)ntes
                            agora e sempre
                                             em sintonia
                                                           de alta frequência
                                                                         Cardíaca
Abarca-me!

Joice Furtado - 26/07/2012

quarta-feira, 25 de julho de 2012

As voltas do cordão de pérolas

Que não me caibo com tanto
sentir em mim não nego
ao peito prescrevo versos
para vários males remédio

A alma cabendo no entanto
explodo em verborragias 
cérebro pulsante tem magia
a cor das palavras no canto

coleciono rimas desmesuradas
fitas com que me amarras
ao peito a paixão rasgada
é assim tão entregue

às voltas do cordão-de-pérolas reluzente

meu ardor por ti
com todo verbo-presente
Amo-te pura e simplesmente
encanta-me nau Poesia

Joice Furtado - 25/07/2012

A lira dos intensos anos



Ai meus vinte anos
que os canta a poesia
começo por ressacas
termino em calmaria

Esses meus vinte anos
de todo canto em lira
deixo no largo pranto
cheia página que vira

Desculpai os impulsos
sabiá sou na amoreira
dedilho simples cordas
do amor apenas a beira

Conhecido meu a pouco
soam em estalidos beijos
embaraçam-me os olhos
anseio entender segredos

os afagos de lisas mãos
em meus recentes dias
tão doces, nunca azedos
intensamente os sentia

Inspirado na Lira dos Vinte Anos - Álvares de Azevedo

Joice Furtado - 25/07/2012

terça-feira, 24 de julho de 2012

Manifestações do fundo do aquário

Foto: Maggie Taylor

O peixe no aquário é prisioneiro
de falas, com tristeza em oras-
bolas de enfeite enganador
cubículo asfixiante

pedras coloridas artificialmente
não são aquelas da paisagem-
agreste vale onde nasceu

a bomba que lhe sopra vida 
ar sem efeito e imundo 
circense ilusão 
forjam corredeira sem jamais parecer

agoniza

o peixe no aquário da morte
é angústia, desassossego e dor
às voltas com a própria sorte

espera
que lhe troquem a água
a cada raiar do dia
quando o fazem por pena
ritual maquiavélico

suas escamas já não brilham
o ar não é mais puro
nem alvo o coração
pela agonia de acertar a face no limo
todo dia

acostumou-se a nada(r) contra
os sublimes sentimentos

Joice Furtado - 23/07/2012

segunda-feira, 23 de julho de 2012

Amanhecendo alma

Arte: Lena Gal

Aprendi com o tempo 
[a renovar minhas próprias confianças
desfazer zelos, implicar em alguns

Alegrar-me com vitórias alheias
perdoar algumas vezes
também esquecer de perdoar
Esperar um tanto mais
[de mim contando que percebam
o valor dessa espera
e quando não percebida
deixar meus sentimentos livres
da preocupação do agrado

Aprendi que um tapa no rosto
[dói como a sensação que lhe impede o ar
porém, observando, compreendi
pior que um tabefe é a desfeita de o dar
com palavras e gestos em quem só ama

a injustiça corrói a alma

justapõe-se ao desespero
caco de vidro moído sob os pés
afamada covardia eu dispenso

Aprendi como se deseja aprender
tal é a maravilha de sentir a vida
saber que há sempre 
o outro lado
um novo aprendizado em tudo

Nas ondas dos cabelos
deslizar-me pelos meios
fios de linha do destino
ser um sol, lua, quimera
fantasia

*
ode aos ventos
mares azuis céus com nuvens
aberto o coração 
abrir os braços e voar
com todas as forças
ser leve
levitando entre os aconteceres
amanhecer em mim, ainda que breve
um pássaro tem a liberdade
toda ela em seu próprio pensar

Após a chuva
cheiro de tarde entusiasma-me
Andorinha 
é hora da revoada 

Joice Furtado - 23/07/2012

Ampara ideias


Sob o arco florescente
estrutura meta-plástica
concavo ampara-chuva
guardam-se ideias
múltiplas

sensações e desejos
cansaço, sorriso, formas
silhuetas, olhares em curvas
transcendentais 

dores e alegrias
almas reluzentes
são
vaga-lumes ideais

diante do escuro mais fechado
sem lua, sem estrelas ou riso
sol(brilha) 
faz dos dias nada-iguais

das rimas brincadeira 
coisa de quem salta na chuva
cantando pingo-raio de sol-estrela

Joice Furtado - 23/07/2012

O aroma das letras

Foto: Vladimir Volegov 
Necessito-lhe por ar
respiro o aroma 
com todas as letras
delicadas notas em fundo âmbar
sândalo e canelas 
[fragrantes

rutila o incenso
formas aditivas trocas de olhar

Necessito-lhe por força
gerador de volts esfuziantes
bombeiam o sangue nas veias
cálidas palavras amantes

verbos ao alto
ad(j)untos nossos nomes
pronunciam os lábios
sussurros macios em lençóis
de nuvens e estrelas
algodões espumantes
champanhe 

derramado com morango
na pele adocicada o lavor
vogais e consoantes
mais que tudo o necessito
Figuro sentimento compondo
lirismos em estrofes com rimas
obra-prima é o Amor

Joice Furtado - 23/07/2012

domingo, 22 de julho de 2012

Em todas as épocas


Olhos de Lua
[brilhante vem raiando
tiram meu juízo

passado, presente, futuro
olhos do destino
eclip(s)es onde me prendo
papéis e mais papéis sonhados
intercepto e os levo ao peito
deito-vislumbro o infinito

desperto
espreguiçando-me ainda
nos lençóis da cama
à beira de mim

Olhos de amor

são luzes, farol
guia-eterno mensageiro
ao que ama
em todas as épocas

centelhas, faíscas
Notícias Boas
borboletas no estômago
e esse olhar-Oceano
barco e proa
remo, vela e m(a)stro
tudo o mais, em tudo
e para além dos horizontes
Amo!

Incida na calmaria da noite
em cada um dos pensamentos
por todas as fases que passo
atravessem-me as horas, dias e anos
um raio luminoso, estratosférico
sou seu manto-celeste
aconchegue-me bem junto(perto)
adentro-lhe
Nua

Joice Furtado- 22/07/2012

ROMEU — Oh, falou! Fala de novo, anjo brilhante, porque és tão glorioso para esta noite, sobre a minha fronte, como o emissário alado das alturas ser poderia para os olhos brancos e revirados dos mortais atônitos, que, para vê-lo, se reviram, quando montado passa nas ociosas nuvens e veleja no seio do ar sereno.
[William Shakespeare]

Extrema!

Foto: devianArt
Paixão eu (a)brigo
desejo incontido
mãos com mãos
prolongamentos

transeuntes vão
e vêm, retomo
caminho desejando
estremecimentos

na pele, seios, saliva
com saliva e ardores
necessários beijos

pelos da barriga
púbis em delícia
fogos explodem
carícias
sobre a pele nua

acende o estopim
[do meu interior
a cada dia
raios e tempestades
seduzem-me
quando se têm ideias
faíscas sobre faíscas
por elas o peito arfa

reviram-me olhares
ombros e braços seus
quadris onde me fixa(m)

mãos com mãos
deslizantes
saracoteiam ansiosas
traçado o itinerante

elásticos ou fechos
[não as impedirão
qualquer frouxa língua

aperto-me e me seguram
entre as coxas -reentrâncias

[mãos a postos
molhados gostos
arremetida
toda sensação
contínua a toque
de caixa ou cama


bem-vindas!

*
Forever and ever

Joice Furtado - 22/07/2012

sexta-feira, 20 de julho de 2012

O sabor orquídea

 
Foto: Fantasy Photo Manipulation

O belo da orquídea
experimento
bala-doce-ment(a)l
pétala por pétala
desfi(ando) o olhar
brando saboreio

ele se desmancha
suave

no céu da boca
e da cidade em Julho
uns me dizem alucinada 
[em mundo de fantasias vive
digo: viver em sonho é minha rima
luz na Vida

bálsamo para as dores tacanhas
cãibras alucinógenas nos vis
com línguas de açoite falam os cegos-
(sem dificuldades visuais)
[não enxergam
dois palmos do próprio nariz

enquanto observo e me apaixono pelo Infinito

Joice Furtado - 20/07/2012

Quando a árvore declina

Foto: Alvaro Guzman

Carniça fétida
[são alguns
à beira da estrada exala
a putrefação gasosa
aeróbias e anaeróbias
o banquete do pó ao pó
aquele velho corpo sem alma
derrama seus últimos favores

impressiona seu estado
espasmódico do antipático
destruidor ora auto-suficiente
e cínico, tão cretino
homem de tantas vaidades

desonra os achegados
e até desconhecidos quando passam
[aponta defeitos na rua
dedo acusador e língua
peçonha nela abriga

jaz em degredo extremo
líquidos, gases, mil processos
até a auto-absolvição
da carne que não é alma
tal será bem-vinda
só aos vermes em seu final
triste!

aborrecer de mente
canalhas são sobremodo sem jeito
um tiro, bala perdida, desarranjam com efeito
[fazem blasfêmias soltar
os que amores cultivam no peito

pobreza não é só não ter o que comer
ou vestir, onde morar
pobreza é não valorizar o que se tem
espírito pequenino acalentar dentro de si
[árvore danosa vai crescendo torta
enverga-se para outras abafar
por fim tomba


Joice Furtado - 20/07/2012

Realmente, a língua pode ser um chicote e, a mente, essa chicoteia com o poder de mil línguas de fogo.

A palavra do desejo

Arte: Marlos Barros
Crítico de si
[é o poeta
sabedor dos conheceres
distinto nas multidões
habitam seu peito mental
[coração

Crítico de pensar
[abstrato(quase), mas tudo
não absoluto nem moralista
são terras mais amplas que deseja
e se governa
ainda que pense não o fazer 
sentindo-se perdido

implicante
interior em tudo
ideia, folha, papel e lápis
para outros caneta
tinta azul do azul mais celeste 
os céus exprime tão bem
[sente-inteiro-sente

nas sombras brilha-herói
desmascara a serpente
ou se alia a ela tangendo letras ácidas
embora esses bigodes malévolos 
perigosos espinhos oculte

espalha as tintas na paleta 
aquarela olhares
sofrer e alegria
[do mundo em caos- agonia
acima dos ais sobrevoa
a palavra&musa do desejo
sempre ela, para todo o sempre
gravada a fogo nas entranhas
-Poesia-

Joice Furtado - 20/07/2012

Aos meus amigos Poetas. Vocês estão em meu coração, sempre.

quinta-feira, 19 de julho de 2012

Os arranhões sobre a pele

Foto: Fanatical Surreal Photo Manipulations 


rasgados os panos
as vestes entrecortadas
sangram
Estourados os miolos
cernes do mundo

arranhões profundos
a mágoa e a febre Humana
provocam delírios

Desmesuras de intranquilidade
frustrações bandidas
suas armas materialistas
imateriais malícias com vergonhas
expostas

e os sem-céu
abrem a boca-cova
Sem amor
desamando o semelhante
despejam murmúrios nos instantes
horas a fio dentro de si
maquinando asneiras

mastigam os dentes
apertam
[malvado bruxismo
descaracterizando o belo
preenchem de bueiros
com sujo, o lindo

choro cacos de vidro
e fumaça de carros
baforadas de cigarro

nesse rosto que se desfigura

é grande a Dor


*
Nem tão santo, nem tão profano, apenas Sobrevivente!


Joice Furtado - 19/07/2012

O caminho a percorrer


amplio as margens
SER do Coração à imensidão

Almejo
vastidão de mim

rio
enquanto percorre o vale
reza e chora à Natureza
[segue o caminho
que assim seja!

retorno
ao manancial nascente
num todo puro ainda 
olhar
transparente onde mergulho

na correnteza com pedras
limpo e bato as vestes
espumas dançam nos ares

Joice Furtado - 19/07/2012

O que precioso é



Valha-me Senhor do Bom-fim
recomeço
Que de tanto erro
[peco por não insistir
No Acerto

(l)ado da moeda 
rasante
mergulhando no ar

chega às mãos no tempo
próprio-determinado

As tiras que me amarram
corto-as todas e desfaço
aquele encantamento

ilusória visão de mundo
reinvento-me por completo
todo segundo precioso
[é o pensamento

Joice Furtado - 19/07/2012

Além do véu dos olhos

Foto: Henrique Vieira
A roca tece o fio
fiandeira
vaivém de desejos
pensArte
enlace de fita

costuro tecidos de cor
alinhavo, chuleio e bainho

Dedos ARTEiros
a máquina não os supera
imagin(a)tivos
passeiam figuras nos vestidos
bordados de flor e folhas
ramos em arabescos

botões pequeninos
unem-se num beijo
refaço as casas
bordados de carinho

Ventos sapecas
sacudam as saias 
nos corpos e varais
de longe avisto-lhes

moldando meu coração
desfaço agulhas e fuxico

do tecido a dobra 
formatos diversos forma

Preguemos a arte
melhor, Soltemo-na
essa voA em liberdade
nada de gaiola ou prisão

lançadeiras a postos
rendeiras mãos 
[de sedas multicoloridas

Ornatos inconfundíveis 
sorriem ao nascerem
alegrias

além do véu dos olhos

Joice Furtado - 19/07/2012

quarta-feira, 18 de julho de 2012

Dragões de inKomodo




Percorro o espaço
nada-vazio via-láctea
derramo meus olhos
nos de outrem

percebo o observável
transcorro corações
e pensamentos


furo o vácuo
transpareço
mastigo os espinhos do tempo
reverso

encontro loucuras em decurso
discurso ao vento Dom Quixote
já matei os meus moinhos
eles quase esturricaram minha mente
eram os dois

dragões de (in)Komodo
vazando ignorâncias pela culatra
jazem na cova das covardias
estúpidos!

com a velocidade da luz
caem no esquecimento

*

Joice Furtado - 18/07/2012


Disparo contra o sol
Sou forte, sou por acaso
Minha metralhadora cheia de mágoas 

[Cazuza]

Entre os alizares e floreiras

 Foto: Ravenskar


Vontade de dançar descalça
sair pela cidade a fora
pisar as poças

e o medo

vontade de gritar 
expulsar os erros
já não existem mais

impedimentos interiores
bailam os pássaros
andorinhas após o temporal
à noite são vaga-lumes

iluminam meu olhar
os postes acesos 
luz fluorescente amarela-
vermelha

então canto
[através das horas
debruçada no parapeito
salivo sonhos na janela
entre os alizares e floreiras
em poesia

*
É o desassossego que me persegue. rs. Vontade de encontrar o verso.

Joice Furtado - 18/07/2012

O ofício


Do verso fez-se ofício
poeta oleiro
modela o barro

fábrica de aspirações
sonhos vários

junta, retorce, contorce, estica
deslizam os dedos-enfeitam
[ato(s) na p(r)onta linha
em fila
queima(m)

Joice Furtado - 18/07/2012

Encharcados de coração

Os livros na estante 
por mãos vincad(o)s 
[do tempo
poeiras 
no quarto vazio
um gemido de angústia

acumulam-se os ais 
dos anos por anos demais

cacos estilhaçados no chão
mais um co(r)po
derramado

sobre o colchão de molas
rangentes os pensamentos voam

lá fora a chuva cai
[estri-dente que aperta
esmigalha o outrora
amor risonho
soa aos quatro ventos
[suam
os dedos, os poros, os veios
ainda esperançosos 
da flor de outonos

mais uma primavera ao coração
um novo recomeço
hajam contornos nos lábios
purpúreos paetês em
[corpetes, saltos-agulha

aja mais, muito além
Vida
por todos os outonos passados
e os que por vir estão

valem
a pena esses escritos lacrimais
encharcados de emoção

Joice Furtado - 18/07/2012

Água com açúcar


Foto: Fernando Martins Design

Explosão
com mil gestos e dúvidas
engrenagens na usin(a)
mente em reação

Cadeia anatômica
rosas de março
abris por cada estação

desfolham-se as pétalas

buquê de extratos
junto ao seio calado
o exaspero
matéria-transformação
[ávida

evaporam os perfumes
aromas maleáveis 
tantos talvezes
[indóceis por completo

adoço minha ânsia 
nessas águas de julho-
açucareiro


venha o verão ao peito

Joice Furtado - 18/07/2012

terça-feira, 17 de julho de 2012

Palavras concebidas

Foto: Joyce Tenneson
Sinto uma saudade profunda
de mim? quase tudo
uns chamarão de carência
outros de frescura

eu chamo Saudade
emergências não atendidas
ausências 
falta
[do que foi ou era
até mesmo do que virá a ser

Eu sinto aquele aperto no peito
aquele ardor que o engraçado
[diz-me: é azia!

Sinto as faltas chegarem
elas vem como ondas
no dia de calmaria

olho para o mar de faltas
as vagas me consomem
eu ateio fogo nas águas
possível é até provarem o contrário
continuo 

muitos pés nas calçadas
trafegam os carros na rua
ainda ouso o encarar-me por dentro
observar o mundo 
vejo-me nua
Sem palavras!

Vejo-me, ainda que muito enxergo,
[ver só não é o bastante
ser o só 
sozinho e consciente

reinvento os desejos
arrepios na pele 
digo ao mundo coisas que gostaria
calo-me
os calos da vida são assim
doem somente nos próprios sapatos

quando não (n)os pisam os alheios

tantas coisas a dizer e tanto que pensar
quem me dera ou dará a luz?
mães-pais que concebem
ouçam
parturientes interiores

alguém em trabalho de parto

Só(mente) o eu
um eu egoísta metido a auto-suficiente
ronda os palácios cerebrais
Abdique

[assim o faço

acendo uma lamparina 
claro-escuro ainda a falta
na penumbra do mundo estão
[esperando
muita luz e sombra por escrever

e sonhos...

*
jamais acabarão a não ser que desista
improvável!

Joice Furtado - 17/07/2012

Em tons mais suaves

Foto: Joyce Tenneson

É que a alma sente tanto
deveras o sentir é fato
para muitos, no entanto,
tão pouco

perceber os olhos
marejando cantos
lágrimas de alívio
de alegria um pranto

quem sabe
o que vai na mente do outro?
e quem saberá?
quando se reconhece a alma
percebe-se tudo

olhando para dentro
do interior para fora
respiração avulsa

sôfrego o poeta sobrevive
um adestrador do mundo cão
pinta quadros, aquarela vida
em tons mais suaves

Hoje o dia está cinza
busco no peito a cor

Joice Furtado - 17/07/2012

O sonho do poeta


"Penso que não tive escolha
Fui escolhido e gostei da escolha
Faço o que sonho
Faço o que gosto
Sou um pouco irresponsável
com os passarinhos, isto seja:
Sou livre
Amo a palavra"

Manoel de Barros