sexta-feira, 31 de agosto de 2012

Vindo à tona

Foto: Marina Sturino

Fizeste-me canção
eu todo desatino
cheio de pedras
em meus bolsos
só afundava

um alento deste-me
a prova mais bonita
gosto de cereja
vermelha lira
primavera
azul
céu onde me vejo

Sou agora ser que soa
sente, desprende-se
as cordas não amarram
amarro-me em ti

aperto laços
estalo os ossos
dedos soltos
impregna até medulas

ao cerne vo(u) em ti
aconchego
carinho suave
calor dengoso
embalo-me neste colo
cheiroso perfume
sopra-me os campos

acampo ao teu redor
soul
deLírio
és minha 
Amapola

fulgurantes cabelos são chama
conduza-me leve sigo-te
maravilhosa dança


Joice Furtado - 31/08/2012


O amor tem feito coisas
Que até mesmo Deus duvida
Já curou desenganados
Já fechou tanta ferida

O amor junta os pedaços
Quando um coração se quebra
Mesmo que seja de aço
Mesmo que seja de pedra
Fica tão cicatrizado
Que ninguém diz que é colado

Foi assim que fez em mim
Foi assim que fez em nós
Esse amor iluminado

Iluminados - Ivan Lins 
Fonte: Letras.mus

corte transVersal

Foto: Aleksey Marina

lâmina por lâminas
em corte profundo

transVersal

espírito em chamas
dilacera a carne
faminta

sucinta paga
escorre em delícias
pelos lençóis da cama
orgasmos

saltos-altos
agulhas apontas
tudo que se anuncia
dilata, comprime
aclAmo
Desejo

ardente (in)forma de expressão


Joice Furtado - 31/08/2012

quinta-feira, 30 de agosto de 2012

Ócio nublado

Foto: Aleksey Marina

Nublado dia é tristeza
falta perfume
lume na veia 
morna

encoberto sentido
de um jeito desolado
vejo-me
confusão

respinga chuva
dia sem sol
acabrunhados transitam

travada língua
a mente obscurece
sem meu olhar irmão

esconde-se a magia
em cúmulos nimbos
o pé do cachimbo
- ócio criativo -
fumaça em todos
afros-brancos, pardos-amarelos
castanhos-claros ainda mais
escuros olhos

parlendas, pardais pulam, meus muitos dilemas
sou uma, sou tantas, enfeito palavras
sou santa, profana, entranha poema
...

Em dias sem sol, eu sinto vontade de gritar

Joice Furtado - 30/08/2012

Lugares mágicos




Escorrendo pelos forros
suares lânguidos
desejos

impregnado o quarto respira
sussurra
intermináveis segredos

seguem des(p)ejados
dedos consequententes
procuram-se 
espaços ávidos

espasmos 
mordidas na carne
sabores humanos
destila a aura quente
aquele fluído

cada porção
transparente úmida
libera en(z)imas

correntes elétricas
arrepiam os pelos
incendeiam a floresta

animais instintos
feras famintas 
uivos à lua

sem rótulos mu(n)dos
são sós com tantos
encaixes mistérios
a perder sentidos
e(n)voltos 
estremecimentos

a maçã vermelha
libera o suco
rubor na garganta 
um gemido franco
revira-se embriagada
embebida em todas margens

freme
mulher tocada em seus...
lugares mágicos

Joice Furtado - 30/08/2012

quarta-feira, 29 de agosto de 2012

Encarte de ti



Essa angústia que me invade
todo o ser perscruta
quanto dói e assusta
estar longe de ti

desse olhos-rios que inundam
as searas onde o trigo
balança-se calmamente

pendendo estou ao vento
e te busco em cada espaço
sim, longe desse abraço
não há nada em mim presente

vagueio 
ave fora do ninho
sem teus olhos faróis
espelhos de um oceano
és um delírio contínuo
delirante sou, mas te amo

amo pura (e)ternamente
amo. como posso amar o que não tenho?
e mesmo em sonhos
imagino
bem-vinda em mim!

entre falhas da crosta
vulcão terrestre mostra
tua lava enchente
convulsiona-me adorar-te

e te amando eu sigo
Arte
enCarte de ti
meu folhear é belo
cheiro novo e quente

eu sinto, sinto a tua falta
Tu te escondes, mas das palavras não


Provocas meu interior riso
entregando-me desejos em versos
mesmo que te escondas, as palavras sempre
chegam em mim tuas ondas
Ah! mar
que me encontras disposto
encosto-me em teu seio
descanso, remanso de mim
Rio (vou) tão fácil contigo
Joice Furtado - 29/08/2012

No balanço das horas


Foto: Maxime Guillerminet
essa paixão absoluta
ora é fogo que alastra
ora água e transmuta
toda forma de desejo
peça a peça visto
em ti o corpo encaixa

inspira-me
o jasmim perfume
derrama
líquido inflamável

nós crescentes cavalgamos
no galope tu me bebes
entranhas com ritmo arfando
do chão assim me ergues
altiplanos
êxtases
unidos meios
entregamo-nos

velejo milhas neste barco

Joice Furtado - 29/08/2012

Cor-poeta

Imagem: Ute Hadam

lírios, rosas, botões
des(f)aço-me (c)asas
pétala por pétala
mensagens abertas
con-verto estrelas do céu
para assim acontecer
minha cor-poeta

inspire-me

Joice Furtado - 29/08/2012

À galope

Imagem: Ute Hadam
bebo do galope e vivo
unidos corpos em corrente
formando elos assim digo
deveras o que se sente
vale tão mais

o seu corpo sobre o meu
em uníssono 
beijos, sussurros e ais
prazer transbordando
um ser delirante

cavalgo êxtases altiplanos 
nossos são os anos
dias, meses, estações
revirando e nos virando
ao avesso dos enganos
somos leais

essa paixão absoluta
ora é fogo e alastra
toda forma de desejo
o que me basta

tê-lo nesses canais
entre-pernas
entre-linhas
entre mil e uma horas
entregar-me a conduta
de amar-lhe sempre
em absoluta paz

desfaço os cabelos
atreVida
tiro-lhe do sério
ao me ter por (s)cada
desço-lhe e subo
piso em Nuven(s)

lírios, rosas, botões
des(f)aço-me (c)asas
pétala por pétala
mensagens abertas
con-verto estrelas do céu
para assim acontecer
minha cor-poeta

inspire-me
o perfume seu jasmim
derrame
este líquido inflamável


Joice Furtado - 29/08/2012

terça-feira, 28 de agosto de 2012

Caetaneando joia rara

Imagem: Brenda Burke
Hoje a canção é chorosa
molhada cama
o céu derrama-se nela

as galáxias lá em cima
teus olhos menina
lindas pérolas

o sol nascendo
em meus dedos teus cabelos
luzindo joias

sentimentos em volta
tudo gira
e o coração anima
sobre(s)salta

ruas, pontes, calçadas, faróis
lanternas, bicicletas, bancas
raízes, árvores, flores, frutos
marquises, marcante mundo
buzinas, ônibus, carros, a lua

e os caracóis dos teus cabelos
estampados fios de cor
em minha retina só

Odara

Joice Furtado - 28/08/2012

*
Deixa eu dançar que é pro mundo ficar Odara! 
Caetano Veloso 

O reinado da chuva



A chuva vem
lá fora tudo vibra
reinado começa-termina

gotículas sobre as folhas
são lagos
cristalinas lágrimas
alegria vaporosa
empoçadas nos ramos
espelhos lacrimais
em mim oceanos

antes da chuva
andorinhas bailam a espera
sim, sorrisos entre gotículas
dispersas no ar
etéreo momento

vislumbro o sol
entre partículas arco-íris
e as gotas de chuva
enfeitam o capinzal

estico as folhas
derramo mundos
nas palmas das mãos
junto continentes
céu e terra
gotas luzentes
são arte celeste
puro amor

Joice Furtado - 28/08/2012

Após a chuva

Imagem: Alfredas Jurevicius
A chuva passou
a terra seca
e eu?
continuo corrente

dá-me tua mão
só(r)rio

entre frases destinos
Fases
um mais a mais
somamos Sós

dá-me tua mão
só(não)lamente
amores perdidos

as barrancas deslizam
turvam-se olhos
cheiro de terra
e folhas secas

garganta que jamais repousa
engole a seco a lama
constrói tijolos 

queimando o nó
pulsos partidos
trilha aberta na mente

em ti estão as profundezas
abis(m)ado 
onde asas recrio e me levanta

desperta
aperta-me junto

A chuva passou
sus(t)enidos
desta falta 
por tempos etéreos

dá-me tua mão
acenda só(l) em mim
Solstícios não mais
des(perto)
ao teu lado quero
sempre amar o amor
meu anel(o)

firme no dedo-alma
infinita neste coração
Joice Furtado - 28/08/2012

A força que nos move


Imagem: Ute Hadam

A arte consiste em ir ao extremo.
Se a gente começa com tambores
tem de acabar com dinamite ou TNT.

Henry Miller.
In: Trópico de Câncer. p. 78

segunda-feira, 27 de agosto de 2012

Ao som cigano bailas

Imagem: Fabian Perez
Baila ao som cigano
a rumba a alma o fogo
Incendeiam
as pernas
vibra o coração
flamenco
desnorteado no ritmo
cantante

Baila
ao som da guitarra
ritmo forte humano
sobremaneira

chego às nuvens
vamos em passos quentes
calientes certezas
distribui aos viventes
um pouco de ti

Baila
agitando as saias
levantando a poeira
pés dançantes
entoamos o canto
a nossa maneira

Volta aqui te espero
espirais enlaças
rodopios ligeiros
somos eu-tu anelos

Bailes para mí
que te quiero 
hoy y siempre
Joice Furtado - 17/08/2012

Abraças Marrocos

Vamos ao Marrocos
Nas mil e uma noites
dançar feito areia
sobre dunas o brilho
amarelo-ouro

Vamos em sonidos árabes
sensuais enleios
por todos os meios
sinuosos
somos inteiros

estamos
na terra dos mistérios
de fogos, luzes e segredos
não mais haverá

chegue o vapor ao deserto
chega a este peito aberto
em ondulações febris
não és miragem
formosa entre véus
é tua imagem e quero

a dança sensual
lua corada observa
és um sonho na terra
rainha

Vamos ao Marrocos
entranças ligeiras
sinuosidades à mostra
quadris florestas férteis
bailando festeiras
barrigas nuas

essa noite és
amor fenomenal

de encantos mil
quando teus pés movem-se
corações tocas
em cada quintal

Joice Furtado - 27/08/2012

Em cada primavera


Imagem: Vânia Medeiros 

Cheiro de chuva no ar
desperta água na boca
um desejo, coisa louca
teu sorriso vistoso

jeito manhoso tens
o balançar formoseia
finas pétalas 
amor-perfeito

aqui ornando meu peito
vens com brisas 
tanto me alisas
quanto te amo

com este andar leve
ipê em caravana branca
viaja por sementes
saias aladas 

primavera
em ti crescem ardores
olhos se enfeitam
piscadelas
por cada esquina
pássaros, moças, meninas
enamoradas

és tu linda primavera
estação das flores
tua chegada meu lilás
contenta o peito
e me faz assim
tão mais e sempre
Feliz!

Joice Furtado - 27/08/2012

O lavor da morena

Sentada
vestido florido e saltinho
mãos nos joelhos
pequeninos

morena Brasil
olhos tímidos

Sentada aí
ligeiramente inclinada
jabuticaba dos trópicos
cor do amor

no banco em penumbra
teu formato deslumbra
saltos agulha
vestido de flor
ornamento

carnaval de mim toma
a mente que te deseja
és rainha, a cereja
meu olhar nunca viu
ou sentiu
ardor eu expresso
ainda te confesso
desejo febril

morena Brasil
vestido rodado
vistosos cachos
cabelos anil

meu céu sobre a terra
é vê-la sentada
aí reclinada
leve moldura
afigura-te ao lavor

meu campo de rosas
vermelha a cor sob ombros
subindo eu vou
aos lábios redondos
seios, quadris, nus
não há mais braseiros
sou teu por inteiro
morena fulô

Joice Furtado - 27/08/2012

A tua cara lavada


Jurado absurdo
o próprio egoísmo
enfurnado em despropósito
teu abismo
certo ou errado
quem mais dirá?

vagueante
balão soprado
ao vento norte
encara tua morte
louca a sorte na mão

vacilante

continua
vacilante

sem fim é o ridículo
tão insignificante
marcado não basta ser-errante
devora espinhos
espele-o(s)

o fétido e ardido azedo
os teus medos
jamais poderá lamentar

abatidos são teus olhos
remói baixo-espírito
nódoa tão batida
persiste no caminho
tortuoso

vacilante

continua
vacilante

quem mais dirá?
em tua cara lavada
inchada e toda aflita
não mais reflita
estupidez

vacilante

vacilante
eternamente

Joice Furtado - 27/08/2012

Vertidas impressões


Angústia em mim figura
lembrar-te ó verso
pois em sonhos vive

canta-me onírico alento
e quando acordo lamento
não te recordar

palavras bem colocadas
nessas estradas sensoriais
não me abandonem
por algo mais
tudo em mim clama

verso que corre 
linhas invisíveis percorre
fala aos meus ouvidos
sonda
as entranhas do ser

notas mentais
fortes a mim declama
assim me exaspera
então te sigo
em paixão solene

fala-me de olhos abertos
mente atenta
diga o que almeja
um sonho nunca perdido
registrado no inconsciente
lembra-me, lembra-me
perto esteja

os teus traços quentes
razões de vida

Joice Furtado - 27/08/2012

domingo, 26 de agosto de 2012

Tardes alaranjadas

Foto: Ben Goossens 


A tarde declinava assim como uma garrafa de vinho que se esvai a medida que é consumida. Os últimos raios de sol eram fachos de luz no horizonte que se fazia vermelho, vermelho-crepúsculo, irradiando laconicamente em meus músculos aquela visão. As aves no horizonte em bandos. O cheiro das damas-da-noite que se misturava com os vapores do rio e aquele odor característico das caixas onde os pescadores punham os peixes recém-pescados. As tardes incidem em minha retina como se cada uma delas fosse o fim do mundo, do ciclo, de mais uma das chances que tive de vencer ou dar uma rasteira no tempo que se esgota, que me foge entre os dedos feito aqueles peixes escorregadios. Olho o céu sumindo, talvez realmente pense que o mundo está acabando, pelo menos hoje. Naquele momento eu sumo, viro um com o bando que bate as asas em direção ao horizonte. A luz laranja é inebriante. Enlouqueço e gralho assim como os pássaros. Converso com um deles sobre o sentido de todas as tardes ele fazer a mesma coisa. Sempre! Ele me diz: essa é a vida e nela eu sou passageiro, sou viajante e aventureiro, sou ar e luz, sou um pedaço humano e ave, sou malandro, maldito, mendigo e nobre, rico e pobre, até inimigo íntimo, mas ainda sou nesse espaço de tempo, enquanto raiar o sol para mim sigo no bando; sigo aqui dentro sendo, sentindo, vivendo e como é bom sentir. Volto ao chão depois de minha pequena fantasia causada pelas muitas horas de sono que perco. A melancolia faz parte da minha vida e dela colho frutos doces e amargos. Saboreio os gostos, os pensamentos mais sublimes e mais sufocantes em um piscar de olhos, em uma arribação. Cheiro as flores pelo caminho, olho a volta, os sorrisos, os rostos, trejeitos, tudo me forma e informa. Inconformado sou e, ainda, a conformidade de tudo torna-se abrigo. Coloco-me entre as gentes que reparam meus olhos, reparam minha aparência confusa, minha lentidão de ser e me dizem coisas estúpidas as quais relevo, uma vez que perfeição é algo distante de todos os viventes. Sinto, sinto intensamente. As dores percorrem-me a alma feito a brasa na fogueira, reacendem ao leve sopro. Essas servem para algo, assim como para alguma coisa servem essas em mim. Ergo meu corpo pesado, minha alma pesada, com mil e uma nuvens pairando sobre a cabeça. Hoje estou tempestade, chuvisco. Pairo no ar, plano feito aquelas avezinhas. Multiplico-me tal qual as folhas da amendoeira na calçada e os muitos frutos esparramos pelo chão que cheira mal. Meu olhar é um misto e quando caminho pela rua ainda sinto a confusão tomar-me as entranhas. Minha pele reage a esse temporal destempo. Sento-me junto ao rio a observar os pescadores. Sempre a mesma coisa! Eles se divertem, diferem uns dos outros apenas pelo sobrenome, uns nem isso. Os sorrisos largos no rosto, aquela espera enervante para mim a qual para eles é um deleite. Reclamo muito e esse reclamar é um defeito a ser corrigido. Afasto os afagos quando estou em tempestades mentais. Ali observando os pescadores, as ideias percorrem minha mente enevoada e enervada. Até um tempo atrás, não me sentaria na beira do rio para ver o movimento dos pescadores, as crianças brincando na água morna do rio nesse final de tarde quente. Não, definitivamente não ficaria ali matando o tempo, esmagando os mosquitos que me roem até os ossos deixando manchas roxas em minha pele. Hoje, mais uma das poucas vezes que fiz isso, sento-me a beira do rio no entardecer da minha alma angustiada e me desafio a apagar as mágoas, transfigurar-me naqueles fachos de sol, de pássaros, de bando, em pescadores sorrindo todos satisfeitos com a vida humilde e sofrida; em criança que salta de cabeça no rio sem se preocupar com o fundo do mesmo, batendo as pernas naquela água morna que cheira a peixe. Hoje, só por hoje desafio-me a ser mais que um homem estranho, exalando meu creme pós-barba, voltando de um trabalho que não gosto, porém que paga as contas do mês. Sofrível em pensamentos suburbanos, muito mais que humanos, ainda que muito de mim não considere humano, mas bicho. Um farrapo que se recupera dos 'nãos' e dos 'talvez' que as experiências diuturnas fazem-me engolir. Um degenerado e corrompido, constrangido com tudo menos consigo mesmo, um azedo, um zé ninguém, um nada ainda que nada me reste, somente 'um' corpo que se recupera da depressão olhando o entardecer na beira do rio e, ao chegar em casa, joga sua pele flácida sobre a cama,  lamentando tudo o que fez de mal para os que o fizeram bem. Sim, o lamento é o pior dos desgostos. Fica pior a cada dia, afunda o cara nos vícios, gera descompromisso consigo mesmo. O lamento, esse é o enredo no qual eu me agarro quando me lembro de outros olhos, quando os meus se perdem no horizonte vendo os pássaros felizes. Lembro-me então: A vida deu-me as chances e fui egoísta demais para compreender isso. Agora conto as tardes como se fossem últimas. Elevo-me ao mesmo tempo em que sufoco, mas sobrevivo carregando muitos mundos, sendo que o meu próprio está trucidado por ser um idiota completo.

Joice Furtado - 26/08/2012

Lesma sou no esterco
um nervo frouxo
desgosto completo
ladrão assassino mendigo
mato sonhos e maldigo
o que acredita em mim
Fétido roedor entre baratas
conto latas de cerveja
latrinas
vomito as pestilências
formo minha incoerência
sou esse vivo idiota
todo hipócrita e inescrupuloso
desgosto de velhos e senhoras
não há mais honra em mim
sou um engodo

atraio todos os males do mundo

sábado, 25 de agosto de 2012

Permitindo-se poesia

Ainda te explico
(e)ncontro
explícito poema
busco-te

ente véus da mente

não te escondas
arranco os lençóis
fronhas da cama


reviro-me
de bruços, lados e costas
lábios no horizonte
fala-me que minto
e já te encontrarei
tão perto estás


ouço tua respiração suave
embriago-me em teu cheiro
ele me desce a garganta feito vinho
amo


as ânsias aumentam
almejo
que facejo este convém
arrancar-te de outros mundos
desça da nuvem ou além
e venha
angústia minha te espera


entre os livros que não li
que leio, folheio-te
desprendo-me nos ares
percepciono o que imperfeito é
mas belo


Verbo-coração
hemorrágico
sangue em minhas veias
já me assombrei, lúgubre escombro
malogrei prazer


destempero, motivo-me
Auto-ajudas se vires ó verso
que te quero, que te quero

Sim, a mulher ama o sonho
e o sonho é ardente poesia

Ela e nEla

amante sou
e ainda que seja, esteja
as mãos consentem que fluas
venha


Joice Furtado - 25/08/2012 

Sempre me surpreendendo - ente - invés de entre, não é? 

ente - o que existe ou julgamos existente. Sim! Sei que existes. Venha poesia! ^^

A viagem do foguete


Foto: Jon Paul
No rabo do foguete
amarrei o meu cometa
vinha da Via-Láctea
destino certo

anos luz percorreu
meu intento no seu
fogo chamuscado

olho de lua
eclipsante
todo inebriante
vinha

amarrado no foguete
retirando fôlegos
por onde passava

entrou na atmosfera
quente
úmida
viagem intergaláctica
viu mil estrelas
enamorou-se

hoje passeando entre nuvens
foguete enigmático
ama sem reservas
passagem de ida-volta

tropicaliente 

Joice Furtado - 25/08/2012

Sorte em canção


Marciano que sou
desejo atmosfera
alento-me
compasso


piso forte na estrada
pés na (c)alma
que sorri


lavadeira formiga
corto as folhas
recolho o inverno
primavero


olhares bonitos
abaixo (a)os aflitos
co(n)tentação


nação poesia
não há estrelas
só melodias
sorte em canção


aquilo que supera é a vontade, necessária Vida.

Joice Furtado - 25/08/2012

I-móvel



Entre estrelas mínimas
galáxias multiformes
o coleriforme
um despropósito
ser anaeróbico
nicho esquisito
um horrendo rito
perto sempre esteja
lamento!
longe demais de si
maquinando merda

a amargura consome
corrói alma sonante
destoa, disforme
vomita sua derrota
dor de cotovelo
nos montes
outeiros
barros
é o que há na mente
naquela
Vã e inteira
besta!

I-móvel

aponta o dedo
seu desprezo
tudo que habita
nesse resto
medindo doble
língua funesta

Assisto de camarote a sua derrocada.

Joice Furtado - 25/08/2012

sexta-feira, 24 de agosto de 2012

Tens fogo?

Foto: Pierre Roger

Abri o portão da mente
desabotoei o inconsciente
Mergulhei nos olhos
profundezas oblíquas de mim

Encontrei o espasmo
um revolto claro-escuro
diário
danificado e absurdo
reivindiquei a paz

distante peito de criança
os sorrisos e a inocência
deixados para trás

Sorri ao entusiasmo
levantei-me do charco
a roupa suja é meu sinal
defesa-lembrança constante
eu, um ser errante
sou livre afinal

assim canto ao meu canto
recito nesse recinto
ressentindo o que é verdade
herdades que deixo
pensamentos soltos
no plano astral

apanhadora de sonhos
de letras e quimeras
pássaro, puta ou donzela
sou minha, sempre minha
amor que me enleva
subo às alturas

Escavei meus poços
uma de tantos esboços
risco meu desenho
figura por figura
caracterizo-me ser
bem mais que criatura

apaixonada
feita de lágrimas
de sabores
tonturas
de eus
de nós
de breves
de sempres
quietudes
cismas
ainda menina
menina não mais
mesmo que alma
seja o que quiser
fada, poeta, bruxa
sinistra, confusa
viajante do mundo
Mulher

*
... Ame-se Mulher!

Joice Furtado - 24/08/2012

— Tem fogo?
Isso lá é jeito de chegar numa dona, conversar com uma senhora, hein, seu isso e aquilo, que pensou ter atingido a sabedoria? Mulher tem que ser abordada com vinte e cinco canhões de bolhas de sabão, princesa e flor do oriente, rosa de incenso, filé minhon da parte esquerda do meu cérebro, abre os braços, isto é, os pássaros, isto é, faça-se a luz, paradise me now...

Mulheres - Charles Bukowski - em Agora é que são elas de Paulo Leminski

A noite dos poetas


Nix veio a este encontro
levanta ao crepúsculo
o seio cadente no tronco
queimante o músculo

dama de estrelas, estreias
caminha nas penumbras
entre espasmos da atmosfera
em gozo de quimera

dança com astros irreverentes
um olhar prudente
filha de Caos e Terra

envolta em fios translúcidos
vapores escuros
a noite o mundo embrulha
esperando o clarão
do dia novo por chegar

contempla os olhos febris
não há mais gentis
que apreciem teu olhar

vêm e voltam
desfazem-se no pó
das horas tediosas 
com pouco ou nada sem pensar

nos teus mistérios e segredos
choram e rangem os dentes
pérfidos medos 
carregam e dizem em ti ocultar

o que obscuro está somente em si

as pragas que carregam
são o bastante para cobrir o céu
apagar a lua com eclipse
esses chistes malquistos
arriscam-se por migalhas
desprezando o infinito

negros monumentos tão bonitos
os olhos de Nix

faltam-te os poetas, negros vultos
perambulando à luz de velas
pensamentos noturnos
negras candeias 
iluminam amada libélula

Joice Furtado - 24/08/2012

quinta-feira, 23 de agosto de 2012

A Caixa Mágica


posso dizer-lhe as minhas pestilências
posso? como posso destruir as crenças
desmoronar os morros de detritos sujos
com a língua ferina escorraçar os vultos
na penumbra agitam-se os gritos roucos 
suores e escarros rostos invejosos rotos
arrotando sobras de monturo mascados
na vala imunda-poluída muitos vermes
tudo que plantado seja perderá cerneS
morrendo no oco fétido os envólucroS 
corroídos caoticamente por mil berneS

As cartas estão na mesa, enquanto rasteja
o seu dardejo 
vejo seus olhos e o serpenteio
o quanto odeio
não sabe?
minha Arte é a Guerra

essa conheço bem

Joice Furtado - 23/08/2012

Então reviro a alma e nela encontro as escuridões que não devem ser negadas, mas compreendidas.

Revelado amor

Imagem: Nicoletta Tomas Caravia

Revelado amor que tenho dito
entregue
os meus ais na fogueira ardem
assim recito

amor bendito
cravada unha na carne
norteia e revela
levant(a)lma
obscuridades enxerga

torna a si mesmo
não se corrompe o querer
próprio
do amor é a acolhida

e o sonho...vivo

aquilo que é nada e tudo
os corpos unidos mundos
e as mentes
universais

amor de algo mais
nato na cama, na lama, um cais
queima como chama
marcados sinais

amor de enleio
novelo de pelos humanos
amor de fato
enrola-se, encaminha-se
ao longo da estrada
nas pontas dos dedos
membros
encaixes reais

a bebida
o vinho que desliza
a garganta seca umidifica
conclama

amor com tudo que há
contudo que seja
e seja mais e portan(t)o
amor

Joice Furtado - 23/08/2012

quarta-feira, 22 de agosto de 2012

Joice-Me - Poema de Lou Albergaria

Foto: Jia Lu
Joice-Me

para Joice Furtado


Poeta-poetisa

Joice!,
parece o som
de uma lâmina
afiada
decepando
os acordes
do poema
nas trompas.
Fico assustada!
Tenho medo
do óvulo
não chegar
ao seu ouvido absoluto.
Fico ruborizada!
Que mulher é essa
que esfacela
o amor o desejo o lábio
ulterior vontade
canta as frestas
libertas
A mulher-margem
ereta seta
em pixels-quilates
um ninho de páginas.
Fico excitada!
Que música é essa
que arde
invade
reage,...
Eu explodo! Rimas ritmos
e rezas várias
Que houve¿...perco o sentido
as linhas me faltam
O seu tom
Azul! torna-se
O meu eixo
desfaleço!
neste pretexto
O poema branco


Vida-me!
Valha-me!


Arco-reflexo
Arco-íris
Arco e plexo!


O amor que ama sem pensar
Meu mundo é a vela
e os seus versos
São Mar,...


Apague-me
Flutue-me


Ou, apenas sopre
gotas de música
na poesia de fogo.


Incendeie-me
por D’eus:


Hoje eu preciso queimar!

**

Mais uma vez: FELIZ ANIVERSÁRIO! Beijo!


Poema escrito pela Amora - Lou Albergaria - para mim. ^^
21.08.2012

Bom morar em ti. Lou-Me! en-Lou-queço de alegria e me aqueço cada vez mais com teu canto. Muito obrigada! 

Aspas não entrem


Não uso aspas!
por elas peguei aversão
maquiavélicas armas
prendem a letra
o espírito de quem as usa
aspas-botão
não são rosas a florir
de casa em casa
não as uso
simplifico meu grito
solto os versos
no ar que saculeja
areja, lateja, lampeja
a ideia na mente
ainda sou tão crente
com respei(s)to a isso
aspas igual canutilhos
de enfeite
prendem a gente
entre paredes 
de senãos 

e os colchetes?
são camas
de um lado e outro
daqueles gosto pouco
dessas demais
mas não o bastante
fico com ser errante
finco os pés 
quebro as paredes
do rodapé ao reboco
oco oco
o eco que me diz
liberdade!

Amigo
a psicóloga adverte:
aspas fazem mal à mente
livre-se

escreva os atos
soltos no tempo, no vento, na planície
montanha e o que mais pensar
Teatro Be-a-Bá
das ideias em fatos

Joice Furtado - 22/08/2012

O maldito mosquito


Um mosquito picou
sei bem
mosquito do desdém
Caralho
Um mosquito picou
ainda eu distraído
maldito
chupou meu sangue
que pica
mosquito infernal
nem estava no matagal
ou na casa do...
mosquito ordinário
do desdém
refém virei desse
cretino 
Culex pipens
talvez seja o prego
perereca ou bicuda
carapanã, fincudo
fincão, sovela
muriçoca
solta essa tromba
massacro-lhe com tapas
não ficará impune
Mosquito da porra!

E se fosse o aegypti?
odioso e danado
para o que me serve
areia a doidado
enquanto dengo mesmo
nenhum

Mosquito radioativo
de lábios negativos
afetado eu fiquei
em desalinho
assim grito alto
mosquito do asfalto
mato também
que desdém já sei
você me pica
pico-lhe na volta
no meio da...

Eu sou a mosca que pousou na sua sopa. Eu sou a mosca no seu quarto a zumbizar.
Raul Seixas

Doideira pouca é bobagem. Eu mesma rio disso. kkkkkkkkkkk

terça-feira, 21 de agosto de 2012

Acorde-me

Imagem: Marci McDonald
é possível que eu o ame
e lhe persiga através do tempo
sondando os movimentos
reparando seus olhos
por trás de cada gesto
olhos negros delírios negros
lúcidos e absurdos almejo
carrego no fio tênue
É possível que lhe siga
entre as auto-estradas surreais
lembranças e nada mais
desmancho dos seus cabelos
os cachos em que se enrolam
notas gotejantes através
invés de nada ainda algo
sempre haverá o gosto
âmago concentrado no beijo
ainda desejo
sempre e único
vibrante corda
acorde(s)-me
tal qual a música
que não destoa, só persiste


Joice Furtado - 21/08/2012

Amor em rimas

Lover Tree - Arte de Jia Lu

Se me pego olhando-te
coro e disfarço
depois retomo caminho
subindo por teu peito
aperto os braços
no meio das pernas
envolves
do rosto forte traço
mordisco os lábios
com um pestanejar

teu cheiro aspiro
suspiro em delícias
são tuas as carícias
e o meu arrulhar

gravito em trajetória
por cada fuso passo
ilumina meus campos
todos os cantos
sem os negar
ardentes

um ser coerente
gente
humano ao extremo
contigo eu remo
estamos no barco

minha costela
transversal
universo em teus olhos
sopro estelar

a plenos pulmões
inunda-me os quarteirões
as esquinas, avenidas
entradas e saídas
por ti
o querer sempre é muito

Abrigo meu
és fonte e sina
nos dedos eu carrego
e te toco, tu me ensinas
cubro-me nesse manto
Amor nunca perde, Rima

rios nascentes somos
expandindo-nos as mãos dadas
saltamos pontes e cascatas
soletrando desejo amado
em cada um dos veios

alma, alma
A(l)ma
duas completas
sentidos perenes
um coração

Joice Furtado - 21/08/2012

Ao meu grande amor Danilo 

A língua estúpida



Aos solavancos vai
arremedo só desmaia
levanta a calça, olha
a lama teus pés resvala

tua fala rota, valha mais
quietude

revela mimada obsessão
dos males o mais sujo
brinquedo de cordas

apertam-te o miolo-botão

então grita todo este desvario
ridículo pouco é bobagem
o próprio por séculos e séculos
chafurdava na mesma lavagem
enquanto te achegas ao portão
síncope de todo o paraíso

segura a calça em meio a lama
assegura-te no dito
cuidado que não caia

os vermes amam os suicidas
com suas parcas navalhas
língua exangue
evocam Hades e o beijam
as faces na alvorada
da alma-besta-fera corrompida

dos males o pior
Desamar o bem na Vida

metralhadora de palavras estúpidas
esse é o tolo

Joice Furtado - 21/08/2012

segunda-feira, 20 de agosto de 2012

Ventrelinhas II - Amor Emergente


uma dentada na saudade
roda a engrenagem
do mel o sabor
mordida que sulca
abrupta
quando em Tempo
re-vira o Amor
a rara fruta
desfruto de ti
em todos pensamentos
por cada momento
parto chego amasso
os lençóis dos ares
sentimentos
mãos para cima
rendida a rima
entrego-te

o banquete dos versos
dispersos em vapores
perfumando o ambiente
eu em ti, a linha
entre versos Urgentes!

assim, configura-te tão sublime...

... Amor fruta emergente
céu no doce calor
me apalpa com tuas rimas
me acarinha com teu canto
tua leitura, minha borda, envergadura
os lençóis testemunham
os travesseiros se aplumam
no dia
mais um sonho
nos dedos
mais que sonho
desejo
no desejo
mais que pulsão
a verdade

como negar que te amo?
como negar que salivo?

como negar que a poesia aninha
rego as flores
descortino a janela
entre a luz do sol
nessas entranhas
assim me estranha? Não!
Amo!

... a poesia que nos coabita

Poema escrito a quatro mãos por Carmen Silvia Presotto e Joice Furtado. Mais um para compor a série de poemas Ventrelinhas. A foto representa Ferônia, nome feminino, Deusa grega das fontes e dos bosques.

20/08/2012