terça-feira, 25 de junho de 2013

Fissuras

Foto: Anna Morozova 

Existem frases célebres
àquelas mentes, reservados direitos
de irem além do frio escuro
da vaidade, homúnculo denso


Meu corpo treme
ouço tristes, sonoros guizos
estridente, típico pesar
nos ossos causa fissuras


Dura pedra alisada por desgosto
brilha o falso
inútil embora engane bem
preso à mão do tolo


Na joia vida, excepcional lapidação
gema valorosa, mesmo partida
não se rende ao desamoroso murro


O que mais se espera - A palavras é firme -
suave também
molda e pondera
dói sua falta em caráteres, deveras


Nuvens passam sobre as cabeças
mas quem olha para o céu? Quem?
Abutres ou homens são?
Tendo alturas, miram o chão.


Refestelam-se na morte, sobras
mais sobras
eis do que estão diante


: Decepção
espasmo último de gente - ultraje!


Antes de ir à terra, grito
esperançoso sinal

um raio
fura o azul do azul

olhos do Imortal
              desejo




Joice Furtado

quarta-feira, 19 de junho de 2013

A dor do mundo

Foto: Web

Se o sangue explode em fúria
fáusticos tições 
acendem a noite abrupta

guerra nas ruas
atrás das mesas, chefões
sorriem. Quanta irreverência!

uma pedra na cabeça
menos uma no telhado 
de vidro é o nosso Estado
cívico

quebradiço argumento
legislativo & fraudulento & abasta(r)do
desumano corrompedor dos fracos

pobres de nós
economizamos almoço para janta
quanto vale 20 centavos ao que ganha
tão pouco? - Muito, sim!

lá na Praça 
Bandeira tremula
e o povo estrangu-
lado
      a lado
com pelotão de choque
cresce a insatisfação

mas eis que surgem, salafrários
em seus casacos brilhantes
nos bolsos são como antes, roubadores
abutres roendo olhos dessa
                                mortificada nação

algo grande está para acontecer 
ouvem-se os alaridos das gentes
ressonante é a dor do mundo.

Joice Furtado

terça-feira, 18 de junho de 2013

Almoço nu

Foto: Mikkel Urup

o corpo nu
copo
transparente voil
arte 

natural

almoço, lanche
dia, noite
cedo, não tarde

arde corpo nu
espelha pele
deseja
o ponto do prazer
não só H ou G
tampouco final é.

Joice Furtado

sexta-feira, 14 de junho de 2013

Não sou anterior à escolha - Poema de Sebastião Alba

Foto: Czarno Białe

Não sou anterior à escolha
ou nexo do ofício
Nada em mim começou por um acorde
Escrevo com saliva
e a fuligem da noite
no meio de mobília
inarredável
atento à efusão
da névoa na sala.


Retirado do blog Eu é um outro 

Semeada

Foto: Alexander Vasilenko

Densa névoa
cerra olhos tímidos
abertos sentidos estão
ao desejo

boca que saliva
ávida busca
mãos, membros
sensação ininterrupta 
prazer à flor da pele

lambo tua presença
selo as horas
colecionando fantasias
deleites corporais

em virtude do amor
esse ser faminto
homem-mulher interior
revestido de muitos

sexos, serenos, agitos

úmidas ausências
calorosas entradas 
inscritas na pele ardem
contraponto

vibra música dos sussurros

raios atravessam céus amotinados
carros em fila buzinam
gritos
entorpecimento, dor, loucura

em pensamento sigo
no rádio a garota corre
... Run baby run!

a palmos meço avenida do corpo... teu

descanso retinas na paisagem
tuas nuas nádegas sob lençol
quente imagem
- meu fetiche -
tom mais íntimo

movimenta-te ousado para dentro
dentro de mim

... Run baby run
vou em pleno gozo
dormir semeada por ti

Joice Furtado

quinta-feira, 6 de junho de 2013

Marejado poema

Foto: Web

Meus olhos lacrimejam
e nem venta 
nessa manhã de junho
lembrando poemas
pego estalos no ar

Porque nascemos poetas
ou em vias de enlouquecer
prendemo-nos aos elos
frágeis-fortes estruturas
abraçamos unânimes palavras

Ainda que nos rotulem
acumulemos dores e insultos
haverá alegrias...

Meus olhos lacrimejam
eMotivo peito 
mãos, dedos, cílios
lábios, pernas, inteiro corpo

... atravessando o túnel
com esperança-coração na boca
em tempo de ver
            encontrar o sonho
            cheirando livro novo
            sinto esperado amor

Joice Furtado