sábado, 22 de agosto de 2015

Aparatos

Foto: Pinterest


Eu me vejo nele,
tão lúcida
Loucamente penso
Dispo sua pele
e as roupas
Irrompem-me desejos

Cerco seus olhos
Visto uns aparatos poéticos
Manipulo aquela mente
Astuta
Caio em algum declive

Deslizo as mãos curvas
evoco umas falas abruptas
Como
e me deixo comer

Eis nossa fúria
Descontrolados e presos
Alçados ao alto da língua
Gozamos

Sós dedos em segredos
Mais que íntimos.

Joice Furtado

domingo, 26 de julho de 2015

Da letra íntima

Foto: Web

Um bom título para um poema
Quisera!
Sair de algumas enrascadas
Abraçar meus blocos de textos... se os são mesmo
Encará-los... fôlego e tentativa

Há um quê desgostoso na língua
Esta minha arranhadura
Dói-me cada fissura da pele
E a linha que se converte em medo

Mistura meus desejos no ensopado místico
Sentir-me uma completa imbecil e a minha figura
Não soa tão distante das outras

De qualquer forma e adiante
Combato o bom combate
Seja matando as sombras, agravos ou apenas
Expurgando minha loucura.

Joice Furtado

Súmula

Foto: Tumblr

Ôh porra! Estive mastigando uns poemas
Junto as minhas francas
Lágrimas,  descomposturas e tudo mais

Esse ser humana
Levar solidões dali para cá
Ver que há algo de errado e continuar seguindo

Uma ovelha indo em direção ao matadouro
Rumino passado, presente
Olhos deslizam para o futuro

Penso: nos esforçamos tanto,
Correndo de um lado para outro
Comendo o pão dos dias
Quando virá o pagamento?

Incontáveis horas nas quais olho o teto
Imagino coisas tolas enquanto busco
... um dEus interior

Algo para remediar minhas feridas
Fuga dessa crítica e incontestável
... lama

Desbunde sobre desbunde
Choro sentimentos de auto-piedade e me reservo
Lúcidos, alguns sonhos de amor.

Joice Furtado

domingo, 26 de abril de 2015

Am(a)res

Foto: Tomohide Ikeya

Um amor assim
Nítido
Embora tímido
Brilha, entre espaços
Marejar de olhos
Amor sim
Calmo
Vem... íntimo! Líquido.

Joice Furtado

terça-feira, 24 de março de 2015

Sonambulismos

Foto: Reylia Slaby

Vida sonâmbula
Terra

Fiquei pensando em nós
nos diálogos
choros desajeitados
Vozes ao vento

Trocando pés pelas mãos

Aquela lágrima rente ao olho
desce até minha garganta
e me aperta
Todo o ser

Porque sinto não dizer o bastante
Penso e durmo
Achando-me livre
Desse triste... ignoto mundo.

Joice Furtado

Clandestino

Foto: Chelsea Patricia.com

Qual teu signo,
cor preferida?

Perdoe,
meu poema clandestino
transeunte
Nem tão sexy,
é
mas se esforça
Se revira
Da pálpebra à ponta do pé
Nem tão chato
ou de troça
Moderninho
Sedutor
Poema sem ódio
Se mágoa tem
viu amor...
e sente
a música nas veias
Tuas costas em minhas
Mãos ao mar
das horas mastigadas
Das rotinas
Beijos molhados mais
Sangrias desatadas...
tenho
Só para te ver

Qual teu signo
Cor?



Joice Furtado

Despertares



Observo ao passar pela rua
Aquele fôlego, tapete rosa
Na calçada fria

da esquina sinto

Vejo as flores em seu despertar
Coração tão certo desanuvia
As vistas desabrocham e
a vida

Continua

jogando suas pétalas
ao vento
para depois frutificar.

Joice Furtado

quarta-feira, 11 de março de 2015

Cantos

Foto: Web

Cada canto, quarto
parede
colada ao retrato
cabeça, cabeceira
meu assoalho de idéias
louca,
louça
por lavar os hábitos
sentimento 
interlúdio
lágrima escorrendo
na boca que beija
o sal
marcando
a água do protetor
solar
vida nos olhos 
criança nos olhos
olhos
a tatear paisagens
línguas
decifrando a arte
do corpo
das ligas
ligaduras

ligações

em espera
em franco atirador
de rosas
de meias e conversa
afiada
com vinho e desejo
poemas
elevados
elevador
no andar de cima
desce
debaixo do cobertor.

Cada canto, quarto
parede
colada ao retrato
cabeça, cabeceira...

Joice Furtado

sábado, 7 de março de 2015

Oxidante

Foto: Charlie Schreine 

O cinza escuro das nuvens
Mastigando asfalto e mágoas
Reações adversas deste controlado
Remédio para minha insônia
Insatisfação

Porque não é "do meu costume"... sórdida
Imperfeita perfeição

Me lembram do que não tenho
há horas
Me lembram, me matam
Co(nso)mem, oxidam o tesão

Vergo-me ante o que vejo
Olhos pesos perdidos
e os sonhos...

Se Vão minhas vistas escurecendo
Levando o querer
e sinto
frustrações ao quadrado

.
Matemática cansada
... aumentam minhas olheiras
Exponencialmente

Joice Furtado

domingo, 1 de março de 2015

Mobília


Foto: Howard Schatz


A solidão das coisas
Sentir-se móvel,  cômoda
Uma palavra oca
ressoando
Vazio

Triste andar pelas ruas
Passo ante passo e o vão
Cresce dor entorpecedora

Arrastar de horas,
Dias, anos, beijos a mais
Ignora...

Me ignoro
Salivando pensamentos no tempo.

Joice Furtado

quarta-feira, 28 de janeiro de 2015

VACAS NA AULA DE ARTE

Foto: Jan Saudek


Bom tempo é como boas mulheres - não acontece sempre e quando acontece não dura para sempre. Um homem é mais estável: Se ele é ruim é mais provável que continue assim, ou se ele é bom ele pode se fixar, mas a mulher se modifica para sempre pelos filhos, pela idade, pela dieta, pela conversação, pelo sexo, pela lua, por haver ou não haver sol ou bom tempo. Uma mulher tem que ser ninada pra subsistir pelo amor, onde um homem pode se tornar mais forte por ser odiado. Estou bebendo esta noite no Spangler's e me lembro das vacas que pintei certa vez na aula de arte e pareciam bem, pareciam estar melhor do que tudo ali. Estou bebendo no Spangler's pensando em qual amar e qual odiar, mas já não há regras: amo e odeio somente a mim mesmo - os outros ficam além de mim.

Charles Bukowski

Arrasto

Foto: Rafal Makiela


Sinto no arrasto
a vida feito peixe

É cedo e me perco
nas ondas mornas, o desejo
embala doce mar

Sob os pés da aurora
Sufoco ares não meus
Borbulhas de ressentimentos
Enegrecem minhas vistas

Sinto no arrasto
a vida feito peixe

É a corrente, me leva
me prende
entremeado num laço absurdo
malha grave, sem amor


Sinto esfriarem as vértebras
Debato contra o tempo e o que é
certo, me parece distante

Agora
todos os erros de antes
todas as horas não gastas

desgastada linha
esvair-se-á de mim tão logo
restará suspirada e íntima
... exClAmada!
Poesia

Joice Furtado

segunda-feira, 19 de janeiro de 2015

Imantações

Foto: Michael Buddabar



Estas palavras veladas
roçando a boca

Saliva morna

Arranha minha pele 
teu olhar nu
queima-me por horas

Debaixo das linhas
entre as coxas
versos de amor e prosa

Gozos atônitos de quimera
rodeio os suspiros teus
como ciúmes nas veias

Aquele pensar furtivo
me doendo agora

Essas palavras veladas
roçando a boca

Desejo cru 

Homem das letras
leva
imanto sinceras tristezas
engulo esperas
e me deixas...

refletindo ostensivas verdades
desculpas para mim mesma.


Joice Furtado